23 de março de 2009

Zero

Uma caixa de cartão simples, sem mais nada, parda, no topo as badanas semi-levantadas. Espreito para o seu interior: Cheia com uma pilha de papel branco. Debruço-me, acho estranho tanto papel sem nada escrito. Quando aproximo a vista constato que estão preenchidas com números. Números e mais números enfileirados, carreiras, linhas compactas de números desde o topo até aos extremos.
Não entendo estes números, o que são, o que querem dizer, o que se pretende que eu faça deles.
Folheio a pilha de papel apertada na medida da caixa, não consigo tirá-la para fora, todas as outras folhas estão repletas de números.
Estes números vão aumentando de tamanho. Deduzo que na última folha do monte há-de estar apenas um único algarismo.
Tenho para mim que há-de ser o 8, que é o meu favorito.
Mas não: São apenas dois zeros um por cima do outro, separados por uma ligeira distância entre eles.
São um oito desligado, penso, se os juntar hão-de ser de novo o meu número da sorte.
Com o indicador empurro o zero de baixo na direcção do de cima. Faço uma ligeira pressão para que se mova até se unir ao outro zero.
Insisto, raspo com a unha, arrasto, nada. Teimoso, faço força usando todos os dedos.
O papel fura-se, separa-se num rasgão e agora os dois zeros estão mais afastados do que nunca. Sei que nunca terei sorte, condenei a minha sorte às minhas próprias mãos.
Quando acordo tenho o coração a bater num compasso violento, uma angústia não só por mim mas por todo o quarto, quase sinto, por toda a minha vida.

1 comentário:

Alexandra disse...

Olá!

Desta vez opto por não o questionar pois considero que quando existem muitas perguntas e poucas respostas, colocar mais poderá resultar em maior ansiedade.

Arrisco uma ou duas leves pseudo-análises.

Uma caixa c papéis q desconhece o significado mas que atribui como sendo uma tarefa que lhe foi dirigida. Lógicamente, perante este complicado dilema teve que o resolver. Por dedução, ou suposta dedução, acha que o nº.8 lhe trará a conclusão da tarefa com êxito. Mas... não foi isso que aconteceu.

Se pensarmos em termos simbólicos significaria que não conseguiria concluir a sua função segundo os objectivos que por si próprio foram definidos.

Que podemos tirar daqui?! Perfeccionismo, é uma das respostas, embora outras existam, tenho a certeza.

Não fosse a somatização e poderia sugerir alguma desdramatização.

Por outro lado, porque não investiga a simbologia do 8? Como exemplo, a mitologia celta tem no nº. 8 muito signíficado. A religião cristâ igualmente.

Estas são meras ideias às quais não tem que dar obrigatóriamente signíficado. Digamos que é somente uma pequena tentativa de iluminação de uma zona que está mais escura.

E, por favor, não agradeça. Nem tão pouco pense q se trata de generosidade. Simplesmente gosto de tentar ajudar, dentro do pouquíssimo que posso, o que equivale a dizer nada! Mas, tentar não custa :)