31 de outubro de 2008

A razão deste blog

Os créditos a quem os merece. Esta coisa de me ter metido a escrever sobre o que sonho não partiu de mim. Foi o analista que me acompanhou durante algum tempo e após algumas sessões que referiu que sería vantajoso eu anotar os sonhos e os pesadelos que me acometíam.
Assim, em cada sessão semanal eu levava-lhe algumas folhas com apontamentos sobre o que me lembrava.
Da parte dele nunca tive grande retorno, dizía-me sempre que andava a estudar o meu processo mas em concreto, nada.
Foi então que resolvi retomar estas pequenas notas.
Um amigo aconselhou-me que o fizesse como um blog, talvez aparecesse alguém com os meus sonhos e pesadelos que eu, ou pelo menos, que quisessem trocar experiências comigo.
Foi assim que me aventurei neste mundo virtual.
E pelo pouco que tenho visitado por aí, não há muita diferença entre o grotesco dos meus pesadelos e a harmonia dos meus sonhos.

30 de outubro de 2008

Ruas da memória

Passeio por uma rua que recorrentemente me aparece nos sonhos. Na vida real não a conheço nem nada que se lhe assemelhe.
Não se vê nem se sente vivalma.
No entanto - penso em monólogo - que alguém aqui deve viver: Todas as varandas têm lençóis brancos estendidos e ouço vozes por detrás desses lençóis. De cada vez que ergo o olhar à procura dos inquilinos, levanta-se uma aragem morna e adocicada que agita os panos mansamente impedindo-me de ver quem está.
Quando a brisa se aquieta os lençóis voltam à sua posição pendente e trazem-me um cheiro de infância que me faz sorrir: O do sabão.
O puro e corrente sabão que a minha Mãe e a minha Avó usavam nas lavagens de tanque.
Sinto-me feliz, cheio de uma paz interior que me leva a fechar os olhos, a desejar encontrá-las.
Quando abro de novo os olhos é noite cerrada. Quase me sinto perdido, estranho a mudança da rua assim, tão repentina.
Ao longe ouço chamar o meu nome. Mas o diminuitivo que a minha Mãe e a minha Avó tão carinhosamente me chamavam.
Acordo.
Tenho uma saudade no peito que não me aguenta as lágrimas silenciosas que abafo na almofada.
Que saudades tenho destas duas mulheres que já se foram.

29 de outubro de 2008

O livro que (nunca) escrevi

Escrevo. Desalmadamente. As minhas mãos têm uma velocidade que até a mim próprio me surpreendem.
Escrevo numa máquina pequena de escrever, daquelas à antiga. Tudo seguido. Aliás falo, dito para mim, para que as minhas mãos me obedeçam e elas cumprem, sem erros, sem emendas, sem necesidade de reler o que já está enfileirado em frases.
Nunca preciso de trocar de folha, é uma actividade contínua, sem qualquer paragem, hesitação, sou ágil a pensar e a executar.
Termino.
Guardo a folha junto a uma pilha que já tenho despachada, dentro de uma capa de livro preta, titulo a dourado. (Curiosamente não consigo recordar-me do nome deste livro...)
Saio para a rua.
Vou de chapéu, beata na boca, passo gingão.
Passo frente à montra de uma livraria e estaco.
Colo o rosto ao vidro, impressiono-me, vocifero, zango-me. Bato no vidro com toda a força até o estilhaçar e aparecer alguém a ameaçar-me.
Clamo que os livros que estão na montra são meus, de minha autoria.
As pessoas que entretanto se juntaram riem, o som das suas gargalhadas penetra-me nos ouvidos e faz-me mal. Sinto-me tonto, acossado e roubado.
Atiram-me pedras que arrancam do passeio. Eu fujo mas num acto de coragem volto atrás e agarro um dos livros da montra partida.
Abro-o. Sinto-me salvo.
O livro está em branco.
Desperto triste, triste, sem uma explicação de peso. Quase me apetece chorar como um rapazinho a quem roubaram a bicicleta.
Durante todo o dia dou voltas e voltas à cabeça para descobrir qual o título do livro que (não) escrevi.

28 de outubro de 2008

Recados

Alguém à minha frente, muito, muito próximo de mim conta-me qualquer coisa que não entendo. Desonheço se homem ou mulher, apenas sobressai uma boca bem desenhada, cor de romã. Vejo a boca a articular-se mas não percebo som algum. Repete indefinidamente as mesmas palavras, sei pelo movimento dos lábios, mas não consigo ler o que a boca quer dizer.
Peço-lhe que fale, que diga alto e bom som o que me quer dizer, que não a ouço.
Aparece então, nitida, a imagem dessa pessoa e sei agora que se trata de uma mulher, toda vestida de branco, quase uma transparência, pois consigo avistar através do seu corpo um cenário por detrás com nuvens, árvores, um riacho e ainda, aperceber-se dos seus seios, da sua púbis, o contorno das pernas, a curva das ancas.
De alguma maneira sinto-me intimo desta figura, sei que a posso abraçar, até levantar o vestido.
Mas quando a vou agarrar dispara-me nos olhos um milhão de cores, como se fosse uma bola que gira continuadamente até me cegar pela intensidade do colorido.
Ouço então a frase que até há pouco não percebía: "Procura-me, tenho saudades de ti."
Acordo sobressaltado como se me chamassem aos gritos e sacudidelas.
Ouço o telefone tocar. Hesito entre a realidade e a permanência deste sonho.
A insistência do toque tira-me as duvidas, atendo.
Do outro lado uma antiga colega de Faculdade, risos, que já tería incomodado todos da lista telefónica com o meu apelido até dar comigo. Diz que tem saudades de me rever; Que está a organizar um encontro de antigos alunos; Que só faltava eu.
Depois de desligar fico parado no tempo a pensar se ela terá mudado muito... era a menina mais linda do meu Curso. Recordo os beijinhos que trocámos...

27 de outubro de 2008

Dominó

O brilhante da seda negra atrai.
Estou vestido de Dominó. Sou enorme, mais de 2mts. de alto. Avisto os outros que me parecem demasiado pequenos em relação à minha estatura. Movimento-me com graça, todos comentam à minha passagem, abrem alas num corredor de personagens entre damas de anquinhas postiças e cavaleiros emplumados.
Sento-me num trono ricamente paramentado de veludo vermelho.
Sou uma espécie de Rei que não desvenda o rosto.
Tenho o poder sobre os meus súbditos, sinto-o, temem-me pelo mistério e pela figura de autoridade.
Faço um gesto com a mão enluvada de negro.
Todas as damas se viram de costas. Constato que apenas estavam vestidas de frente, atrás estão completamente desnudas, as meias altas terminadas por rendas e laçarotes chamam ainda mais a atenção para as nádegas rosadas que me exibem ao dobrarem-se gentilmente.
Sei que é tudo meu, basta um gesto meu para ter de bandeja qualquer daquelas que se me oferece. Levanto-me e banqueteio-me a bel prazer, sem nunca desvendar a minha identidade e perder a pose de soberano.
Acordo, dá-me vontade de rir.
Quase me sinto um malandro. Mas de barriga cheia. Volto-me para o outro lado e desejo voltar a adormecer pegando na ponta do sonho que deixei. Agora espero que se voltem de frente.

26 de outubro de 2008

Guerras

Estou no meio de uma guerra. Destroços de casas, de pessoas. Sei que tudo o que me rodeia é igual aos documentários que vi sobre a II Guerra Mundial mas ter conhecimento racional desse facto não me retira o medo, o suor, a dor, o sofrimento. Há uma cor vermelha que predomina. Não sei se é sangue...
Procuro pelos meus entre escombros. Descubro gente da minha infância, parentes que já se foram há muito. Há uma mulher de laço na cabeça que para qualquer lado onde vá, seja na busca dos meus seja para me resguardar dos barulhos das bombas a assobiarem me segue. Está sempre calma, as mãos entrelaçadas sobre o regaço, muito branca, uma expressão de menina. Olha-me. Não diz nada. Apenas me olha.
Pergunto-lhe se sabe onde está a minha gente. Mas não responde, não se mexe, apenas me olha fixamente.
Distraio-me.
Uma bomba rebenta.
Acordo. A arfar como se tivesse acabado de disparar de uma corrida. Fico com a sensação de que a mulher então, se afasta da porta do meu quarto.

25 de outubro de 2008

Gastar o tempo

Nas noites em que a insónia perdura para além de uma hora e a cama parece desconfortável, levanto-me.
Para além de todos os truques habituais, é um tempo em que gosto de ler.
Acomodo-me no sofá da sala e dedico-me à leitura do meu livro de cabeceira que tanto pode passar por Pessoa como pela epopeia dos Lusíadas.
Muitas vezes cabeceio, fecho os olhos, tomba o livro, pesadissimo entre mãos.
De esticão apercebo-me do sono a chegar, recolho-me ao leito.
Mas mal sinto os lençóis sobre mim uma espertina energiza-me e lá volto eu à velha insónia.
Regresso ao sofá, puxo a manta de viagem para os pés.
Tantas vezes só dou por mim manhã cedo, gelado e cheio de dores no pescoço, o livro a cravar-se de lado nas costelas e eu, completamente podre de sono.

24 de outubro de 2008

Sonhos

Os sonhos serão uma demonstração da realidade do inconsciente.
Sendo estudados correctamente pode descrever-se, ou melhor, conhecer o momento psicológico do indivíduo, fazendo uma analogia séria como uma "fotografia" do inconsciente. Por isso, o sonho demonstra sempre aspectos da vida emocional. Os sonhos têm uma linguagem própria. Pense-se no seguinte exemplo: Ao ver duas pessoas estrangeiras que falam um idioma que não é do nosso conhecimento, nunca diríamos que elas não sabem falar. Na verdade, o problema é que não conhecemos aquela língua (a sua estrutura, a sua gramática, etc). O mesmo acontece com os sonhos. A sua linguagem são os símbolos, pelo que para entender os seus variados conteúdos, temos que os estudar.





Wikipedia

23 de outubro de 2008

Amputado

Da discussão acesa que mantenho só eu grito, do outro lado há respostas calmas e em tom baixo.
Não sei porque não encaro a pessoa com quem me zango, olho-lhe os pés, vejo-lhe uns ténis pretos sujos e velhos, a orla das bainhas das calças rasgada, poeirenta.
Debato-me sempre e muio por manter a minha opinião e acuso sistematicamente o outro sem o olhar nos olhos.
Por vezes falta-me a voz, quando tento gritar ainda mais alto.
De repente há um silêncio profundo, não recebo resposta do outro lado.
É aí que acho coragem para olhar omeu interlocutor que se aproximou mais de mim.
Não tem um braço, farrapos de carne pendem ainda à mistura com sangue e ossos fracturados, um quase coto sem cicatrização.
Grito horrorizado.
Reconheço-lhe o amigo de infância a quem perdi o rasto há muitos anos.
Desperto a choramingar, a gemer, estou aflito, demoro para me enquadrar na realidade. Penso em telefonar ao meu amigo no dia seguinte, procurá-lo, saber dele.
E temo que algum mal lhe tenha acontecido ou até mesmo que me apareça amputado.

22 de outubro de 2008

En(Cantar)

A sala está completamente cheia.
É uma espécie de bistrot mas com palco.
Vejo distintamente as cortinas vermelhas de veludo, pesadas, orladas de uma franja alta dourada.
Os que se sentam nas pequeninas mesas de tampo de mármore bebem e fumam, há um ruído de fundo elegante e agradável.
Espera-se que o espectaculo comece.
E qual não é o meu espanto quando me chamam ao palco para cantar.
Fico feliz pela ovação que se abate sobre a sala, as cabeças a rodarem e a procurar a minha pessoa.
Chego ao palco, não sei que música vou cantar nem vejo orquestra nenhuma, e no entanto um som de clarinete ecoa, encanta-me, sei o que devo fazer, agarro o micro anos 40, abro a boca e uma melodia nostálgica silencia em admiração quem me ouve.
Acordo, fico muito quieto, ainda consigo ouvir os acordes ao longe, muito ao longe... aconchego o travesseiro ao rosto e durmo feliz.

21 de outubro de 2008

Intermezzo

Não conheço o sitio e no entanto, encontro esquinas de ruas que me são familiares, passeios que me dizem eu já lá ter passado. Tudo é nebuloso, cinzento, pesado, dificulta ver além a espécie de cortina que se abate adiante de meus pés.
Sei que procuro alguém e não encontro.
Parece que giro num passo vicioso pois volto sempre ao mesmo lugar.
Afligo-me por ver o tempo passar e não dar com a pessoa que procuro. Sinto uma enorme pressão no peito como se o cinzento que se alastra me pusesse um pé com força por cima do coração.
O tempo passa e eu sempre naquela caminhada infinita. Pressinto-me perto de quem busco, muito perto, quase estico o braço e a agarro mas por uma qualquer razão não a alcanço e a pessoa não me ouve.
Os meus chamamentos adensam-se num som lento e distorcido.
Sufoco.
Acordo.
Sinto o ar a faltar-me.
Vejo as horas.
Destapo-me, tenho calor, fico uns segundos de olhos abertos a pensar no pesadelo, sinto-me incomodado.
Corro.
Através da cor cinzenta e pastosa, parece uma geléia que me deixa prosseguir com dificuldade.
Entrei em desespero total à procura da mesma pessoa, sinto-me atrasado, encontro gente sem cara mas isso não me assusta, só quero encontrar aquela pessoa e é essa mesmo que desapareceu por completo.
Tenho medo, sinto um medo tão grande que choro, choro muito, choro e ainda corro.
Acordo.
Estou gelado e alagado em suor.
Sinto um quase pânico de voltar a adormecer e pela terceira vez pegar no mesmo pesadelo...

20 de outubro de 2008

Motorhead

Durante a hora do almoço passo os olhos por uma revista da especialidade sobre veículos de duas rodas. São um assombro!
Sempre gostei de motos mas nunca tive o arrojo para comprar uma.
O dia passa-se sem nada de especial: nem contrariedades, nem noticias que me tragam um momento de felicidade excessiva. Tudo normal.
Na hora do deitar a minha preocupação é o pouco tempo que vou ter para dormir. Preocupo-mo com as contas que faço desde que me deito até à hora que tenho de me levantar.
E claro, a insónia instala-se.
De vez em quando espreito o despertador e a ansiedade dos minutos contados ainda me deixa com menos sono. Simplesmente, não consigo sossegar, reconciliar a paz interior para me acomodar nas poucas horas de descanso que me restam.
Lembro-me de tudo e mais alguma coisa. Recordo os fatos pretos dos motards, as motos, as cilindradas, as fotografias em que o condutor arrisca a pele e se deita de lado sobre o asfalto.
É nestas divagações que adormeço...
Estou montado numa moto, mãos sobre os punhos, fato negro de cabedal, capacete com viseira tombada. Mas não ando, não circulo, fico-me por aquela pose impressionante sem mais accção alguma.
Um bando de mulheres louras aproxima-se. São todas iguais. Reparo com insistência na cor da pele delas em contraste com o meu fato escuro.
À vez tomam assento sobre a minha mota, à minha frente, exibem-me as nádegas rosadas e riem muito. Não entendo o que falam, só riem e sorriem para mim.
Disputam a vez, empurram-se, os seios fartos abanam quando se impõem perante as outras para se sentarem na minha moto.
Eu estou impávido e sereno, um mero assistente.
Uma delas, mais ágil, salta para a minha frente e levanta as nádegas na direcção da minha cara, abana-se, dá às ancas, eu vejo tudo e quero, mas por uma razão qualquer não consigo levantar a viseira do capacete e tomar uma atitude.
Vem outra e beija a loura da minha moto. É uma cena de pôr qualquer um completamente fora de si! E eu não me mexo, não me movo.
É aí que percebo que eu sou parte integrante do veículo, como se fosse uma peça, um escape ou uma roda e estou completamente soldado à minha máquina!
O despertador toca.
Estou irritado, confuso e completamente estoirado.

19 de outubro de 2008

Invasões

Entrei num elevador e fiquei confuso ao olhar o painel dos botões. Quería ir para casa, sabía o meu andar mas ao ver que todos os botões tinham os mesmos números fiquei indeciso em qual deles carregar. Contei-os, de baixo para cima. Carreguei no que estava em 5º lugar.
O elevador subiu, subiu, subiu. E porque achei que tinha subido demasiado voltei a carregar no mesmo botão. Desceu. Parou. As portas abriram-se.
Saí e dei comigo num atrium de um hotel.
Fiquei baralhado, pedi desculpa por estar ali mas envergonhado não quis perguntar que elevador devería tomar para regressar a casa.
Um empregado fardado guiou-me e muito afável disse-me que me levaría até ao meu andar.
Subimos. Reparei que o elevador era daqueles à antiga, com banco de capitoné em veludo, tudo muito luxuoso. Saímos e ele foi à minha frente, abriu a porta da minha casa e ficou à espera que eu lhe desse gorjeta. Mas eu não tinha dinheiro e ele ficou furioso. Insultou-me e desapareceu.
Entrei em minha casa e qual não é o meu horror quando vejo estranhos a dormirem na minha cama que estava mesmo no centro da minha sala de estar.
Acordo agitado, chateado, contrariado.
Por todo o dia fico com esta sensação de invasão dos meus dominios.

18 de outubro de 2008

Quase...

Estou encaixado numa mulher que está sentada na minha secretária. Ela tem as pernas afastadas e eu aconchego o meu corpo nesse ângulo aberto.
Abraçamo-nos, beijamo-nos continuadamente. São beijos molhados, sinto a lingua dela muito macia, os lábios a deslizarem, os olhos dela fechados num verdadeiro prazer.
Não a conheço.
Ela segura-me o pescoço e puxa-me mais para ela, a suavidade dos beijos dá lugar a uma ferocidade, morde-me a boca, o queixo, a orelha, excita-me.
De repente fico preocupado pelo lugar onde estou.
Reparo que há mais gente a assistir, mas parece tudo natural, alguns sorriem, parados, especados a observarem-nos, aguardam pela continuação, sinto que esperam que eu retribua e mostre do que sou capaz com uma mulher.
Beijo-a, descubro-lhe os seios. Ela não parece nada incomodada com a nudez que se revela perante a assistência, antes me incita, pede-me, fala baixo, repete mais, mais, mais. Ondula o tronco e avança o peito em direcção à minha boca, insiste nas palavras, exige que a coma, di-lo como uma ordem.
Deita-se sobre a secretária, o sexo exibido perante todos, entro nela, seguro-lhe as coxas que me apertam as costas, é tudo perfeito, um encaixe bestial, sabe-me bem, muito bem.
Há gente que se aproxima para ver de perto, não os quero ali, quero-me só com esta mulher que me dá um prazer como nunca senti, fecho os olhos, concentro-me, quero atingir o orgasmo.
Mas não sou capaz, só sei que não sou capaz, demasiados à minha volta, sinto-me envergonhado, não sou capaz, ela exige-me por palavras rudes que a faça chegar ao climax e eu esforço-me, tento abstrair-me, mas não sou capaz.
Acordo. Mal disposto. Erecto. E dorido.

17 de outubro de 2008

Vida&Morte

Deito-me. Adormeço. Abro os olhos. Assomando à porta do quarto um amigo que já morreu há algum tempo. Chega-se a mim, senta-se na cama. Soergo-me.
Durante algum tempo ele fala, admoesta-me por atitudes do passado. Embora o ouça com atenção penso obssessivamente que tenho de acordar, que isto não passa de um sonho.
Ele agarra-me nos braços e alerta-me: isto não é um sonho.
Eu sei que é mas ele insiste que não.
Fico confuso.
Penso numa forma de despertar para ele desparecer, sei que só assim ele se vai embora e poderei acordar e voltar a dormir sem fantasmas.
Digo-lhe que está morto, logo não poderá falar comigo que estou vivo.
Ele sorri... Diz-me que apareceu apenas para me falar de coisas que não teve tempo.
Grito NÃO.
Estou sentado na minha cama, a almofada ao alto encostada à cabeceira, tal como no sonho.
Quero levantar-me, andar, beber um pouco de água, certificar-me que estou vivo.
Mas tenho medo, muito medo de encontrar o morto.

16 de outubro de 2008

Linguajares

Debato com várias pessoas que nunca vi, sitios, indicações, caminhos, lugares.
Faço-o em diversas linguas, sou perfeitamente entendido, apesar de me colocarem várias questões em simultâneo.
À medida que aponto direcções de braço esticado chego até elas, como se as mostrasse in loco, seguem-me confiadamente, não hesitam nas minhas certezas, admiram os meus sorrisos, é agradável falar com esta gente.
Cada vez se acercam mais pessoas e apesar de todos falarmos ao mesmo tempo não é um ruído, distintamente escuto cada uma delas e elas aguardam pela sua resposta, há quase uma melodia.
A certa altura informo que terei de partir.
Vejo-me num relâmpago junto a um passeio preparado para atravessar a rua, aguardo que o sinal vermelho tombe para o verde.
E é um barulho infernal de trânsito que me desperta.
Apesar do acordar intempestivo, abrupto, sinto-me bem.
Tenho a sensação de ter sido útil. Mesmo com pessoas inventadas.

15 de outubro de 2008

Escadarias

Cá do alto avisto um chão axadrezado. Branco e negro, largos quadrados que contrastam com a cor de mel da madeira de uma escadaria em círculos como um parafuso.
É uma escadaria larga, de degraus não muito altos entre si, mas bem demarcados, macios, quase sinto o cheiro da cera que lhes confere aquele brilho recatado sem encadear.
Estou no topo da escada, agarrado a um varandim de ferro forjado trabalhado ricamente.
Há muitos pormenores a que me prendo, que observo fascinado.
Noto que a vista que obtenho torna-se um canudo, um cilindro fechado até chegar ao bicolor do chão, quase parece um olho que se desdobra num sem-fim.
Penso em descer a escadaria e sinto tonturas... o pé inicia o movimento até ao primeiro degrau, depois o segundo, outro, de seguida mais e mais, vou ganhando velocidade à medida que descrevo a curva larga, uma corrida desenfreada que me leva a pular vários degraus, agora só na ponta dos pés.
Torno-me de tal forma ágil que deixo de tocar o chão, inclino-me, largo a verticalidade e abro os braços, dirijo o meu corpo deitado rente às escadarias, suave, tão suave, voo...
Ao chegar perto do chão retomo o contacto dos pés.
Estou descalço, nos últimos degraus sinto a madeira acetinada e depois o chão, frio, frio...
Acordo devagar.
Não abro os olhos de imediato, sinto-me a pairar e é tão bom.

14 de outubro de 2008

Caír, caír e caír

Caio.
Desamparado, de costas para o chão ainda longe, afasto-me da janela onde me debrucei e nesta queda livre vejo-me ainda lá em cima, grito, tento avisar-me para não me pendurar tanto, aceno, tenho chamar a atenção de mim mesmo para o que me está a acontecer...
Bato com força no chão. Antes de morrer vejo-me a caír.
Desamparado, a gritar por socorro, a tentar dar aos braços e às pernas para inverter o sentido da queda.
Desisto. Olho para a janela e vejo-me a assomar, a rir. Grito tudo quanto posso para evitar o que sei que vai acontecer.
Volto a caír.
Acordo, sentado na cama, encharcado em suor, a arfar, uma aflição que me faz levantar de um salto e a andar pelo quarto, rápido, sentir os pés na madeira bem firme.
Grito.
Recorrentemente caio, morro, vejo-me a caír e a morrer de novo.

13 de outubro de 2008

A magia dos números

Sonhar com números.
Uma bizarra aventura que me perseguiu. Ou eu perseguía um algarismo: O oito. O 8.
Corri por ruas, sitios escuros e outros pardamente alumiados em busca desta obssessão, continuadamente, sem nunca me cansar ou desistir por não o encontrar por cima das portas, na sola dos sapatos, no relógio, nas matriculas do carros que quse me atropelavam quando eu, louco, me atirava para o meio da estrada sem medo algum e deixava que os automóveis me raspassem sem me ferir.
De repente desatei a rir, a rir tanto que me agarrei à barriga.
O oito, lá estava ele. Mas não em pé. Deitado, disfarçado de sinal de infinito.
Eu ría, cada vez mais por ter descoberto a sua manha.
Acordei.
Muito bem disposto.
Nesse dia comprei lotaria, joguei em jogos de azar, sempre a apostar no algarismo fugitivo.
Não fiquei rico, mas saíu-me um bom dinheiro!
(Depois deste episódio tive muitas noites que não me lembro o que sonhei)

12 de outubro de 2008

Subconsciente superior

Hoje discuti com o meu chefe. Nada de demais, mas aborreceu-me. Fiquei contrariado por um bom bocado. Depois esqueci-me, claro.
Mas aquilo deve ter ficado a remoer cá dentro pelo subconsciente...
Adormeci sem dificuldade.
De repente tive a sensação que ía a caír no vácuo, despertei, apenas a cabeça saíu do enquadramento da almofada, nada mais. Ajeitei-me, fiz uma cova no travesseiro e rápido encontrei o sono.
Lá estava ele, ao fundo da sala, de dedo espetado, um braço elástico que chegava até ao sitio onde eu estava. Como cenário os outros colegas, todos junto a ele. Eu de cá, sózinho.
Berrava, o som chegava-me sem perceber as palavras, de vez em quando o meu nome proferido, distinto, em ondas propagadas que me ensurdecíam. Sempre em tom ameaçador.
Sei que voei. Bastou pensar-me em ser capaz de voar, como um salto ágil de um felino que descreve um arco no ar.
Aterrei em cima dele. Os outros recuaram. Era só eu. Senti-me um vencedor. Ele desaparecera.
Despertei, olhei o relógio, ainda tinha mais duas horas de sono até ter que me levantar.
Adormeci como um bébé.

11 de outubro de 2008

Saudade

Silêncio absoluto, tudo branco. Não como a neve mas como o nevoeiro, não frio mas morno, sem outras cores que não branco, quase transparente. Não vejo nada para além de branco, até o silêncio parece branco.
Como irrompendo de uma cortina de fumo surge uma mulher.
Olha-me profundamente. Falamos sem abrir a boca, sem proferir uma palavra que seja que fira este branco, e no entanto escutamo-nos, percebemo-nos.
Beija-me ternamente nos lábios, apenas um aflorar.
Sinto-a triste, muito triste mas sem lágrimas nem a expressão vincada de quem padece da dor da separação. Sei que nos vamos separar, chegou ao fim, não por vontade nossa mas porque é assim.
Abraço-a, primeiro leve depois mais forte como se a quisesse esconder dentro do meu peito.
Ela repete o mesmo olhar profundo, leio-lhe nunca te esquecerei.
Passa a palma aberta da sua mão morna na minha cara, fecha-me os olhos, sinto a mão ainda pela boca, no queixo, parada sobre o coração.
Quando volto a olhar ela desapareceu, ainda vejo uma espécie de túnel de fumo branco que se abre à passagem dela.
Chamo-a, mas não é um nome que digo, é um som estranho e tão belo...
Acordo.
Olho o tecto do meu quarto e espero que ela me apareça a sorrir.
Sinto saudade de uma desconhecida.

10 de outubro de 2008

1/2

Faço a barba, tomo duche, perfumo-me.
Sinto distintamente o cheiro da água de colónia, a cor ambreada, o pico do alcool a arder-me no recorte onde a barba termina.
Visto-me.
Estou bem, faço o nó de gravata frente ao espelho, admiro as mãos a darem a volta entre o laço que aperta e sustém.
Agora o casaco, levemente frio, lentamente a amornar-se no meu corpo.
Saio para a rua.
Não conheço esta rua embora saiba que é ela que me há-de levar ao destino. Não sei para onde vou mas pareço determinado até chegar a qualquer sitio.
As pessoas que se cruzam comigo olham, algumas param. São homens e mulheres sempre aos pares ou grupos de três, não mais. Todos eles sobem a rua enquanto eu a desço. É cada vez mais íngreme.
Começa a soprar um vento frio. Puxo as abas do casaco que esvoaçam. Não me tapam.
Dirijo o olhar para mim próprio e reparo que estou nú da cintura para baixo.
Desperto.
Fico muito quieto. Parece que não me consigo movimentar da posição em que estou.
As mãos seguram-me o sexo, apertadas entre pernas.
Ouço o meu coração a bater.

9 de outubro de 2008

Fugir

Perseguíam-me.
Não consigo saber quem, perceber porquê.
Corro.
Sinto-os cada vez mais perto de mim, prontos a atacarem-me.
Enquanto corro pela vida penso no perigo eminente da queda, a atrapalhação das pernas ao quererem dar mais do que o que conseguem.
A fuga mantém-se por largo tempo, eu nunca páro, receio olhar para trás e vê-los ali mesmo, bastando deitar-me a mão para me agarrarem.
Sinto que se me alcançarem matam-me. Não quero morrer. Grito desesperadamente por socorro, que alguém me ajude mas desconheço onde estou e onde possa dirigir-me para me darem protecção.
Cada vez corro mais, eles nas minhas costas. Reparo que afinal não saí do mesmo sitio. Eles vão agarrar-me.
Acordo.
Não sei se estou vivo, moído de pancada.
Sei que o coração parece um cavalo. Não consigo acalmar-me.

8 de outubro de 2008

Interrompido

Durante o tempo que fiz análise, falei dos meus sonhos eróticos.
O analista escalpelizou-os de tal forma que os reduziu a um recalcamento que vinha lá dos primórdios da infância. Proibições, dizía ele. Sentimento de culpa de fazer às escondidas o que não me era permitido.
Por isso sonhava sempre em sexo com mulheres que não conhecía.
Esses encontros fortuitos eram interrompidos quando a mente me lançava alertas sobre o proibido.
Aí acordava. Por isso nunca chegava à penetração.

7 de outubro de 2008

Preliminares

Não a conhecía de lado nenhum. Apareci já naquela posição, muito apertado e a apertá-la muito, um abraço de palmas abertas e em que os braços traçam a encostar o corpo contra o nosso. Sentía-lhe as costelas, o peito alto, o sexo dela contra o meu.
Ela beijava-me sofregamente, puxava-me o lábio inferior entre os dela, chupava, depois metía-me a lingua dentro da boca.
Tudo lento, como se fosse um filme rodado em camara lenta.
Lembro-me de achar estranho estar naquela intimidade com uma mulher que não conhecía, mas essa questão ainda me animava mais. Abri-lhe a blusa. Dois opulentos seios saltaram para fora como que a olharem-me. Toda ela era aquele peito cheio, redondo, empinado, eu admirava e tocava-lhe, sentía os mamilos resvalarem sob a minha palma, entre os meus dedos. Ela começou a gemer baixinho e eu mordi-a.
Guiou-me a mão entre as suas pernas.
Acordei.
Levantei-me e tomei um duche frio.

6 de outubro de 2008

Evitar

Por largos períodos sou acometido de insónias.
Muitas vezes, começo a pensar que vou dormir e ter pesadelos, preocupo-me, enervo-me, quase sinto medo e num ápice crio excelentes condições para que o sono não apareça.
Por fim, cansado, lá adormeço, muito perto da hora de erguer. Quando impelido pelas obrigações dos horários me levanto estou pior do que quando fui para a cama.
Sei disto tudo. O tentar evitar pensar nos pesadelos é quase tão mau como tê-los ou ser atacado desta falta de fechar os olhos e sossegar.
Venha o diabo e escolha...

5 de outubro de 2008

A insónia

Insónia é a dificuldade em iniciar ou manter o sono. Acompanha-se de uma sensação de sono não reparador notada na manhã seguinte. Como consequência, sente-se fadiga, irritabilidade e agressividade.
A duração da insónia é variável, podendo acontecer desde a insónia de poucos dias de duração até a insónia de longa duração por meses ou anos (insónia cronica).
in Wikipédia

4 de outubro de 2008

Análise

Já tentei de tudo para abrandar a frequência dos pesadelos, ou pelo menos aligeirá-los, tentar que não me comam metade do dia na ansiedade que me provocam.
Desde não jantar e jantar apenas sopa; fazer uma pequena ceia antes do recolher para o estomago ter com que se ocupar; tomar um copo de leite frio, quente, morno, um chá, uma tisana; um ansiolitico, um calmante (uma pedra!), 1/2 calmante; correr; tomar um banho bem quente, morno; ler; assistir a um programa de televisão; ouvir musica; yoga; meditação; escrever sobre os próprios pesadelos; não fazer nada.
Depois a análise. As explicações profissionais. Uma luz ao fundo do túnel, a esperança, a expectativa de conseguir dormir descansadamente, a interpretação de sonhos e pesadelos.
Ao fim de dois anos estava tudo na mesma e de algumas vezes até se agravaram.
Parecía que quanto mais se chafurdava neste pantano mais o lodo vinha à tona.

3 de outubro de 2008

Repetições

Tenho pesadelos que me perseguem desde a infância.
Dos sonhos não tenho essa sorte... a recorrência apenas se envolve com o mal.
Parecem decalques ao longo dos anos, as quedas de janelas altissimas, o tiro no abdómen, o sol que queima de frente e me persegue até arder.
Acordo suado e de coração acelerado, demoro a ter percepção do real e fico bastante tempo assustado. Mesmo sabendo que são apenas repetições do que já conheço.

2 de outubro de 2008

Dimensões

Porque será que nos sonhos e nos pesadelos tudo tem uma tamanho infinitesimal mais pequeno ou o gigantismo do que o olhar não apanha?
Nunca sei se corro perigos ou se essas coisas tridimensionais se aproximam para me resguardar de algum mal de que não tenha dado cheiro.
Tudo cresce e derrama ou tudo mirra e nada cabe. Num e noutro, o meu desespero.

1 de outubro de 2008

O pesadelo

O pesadelo é um sonho penoso com sensação de opressão toráxica e dispnéia, terminando por um despertar sobressaltado ou agitado e com ansiedade.É uma perturbação qualitativa do sono (parasónia), na maior parte das vezes de origem psicoafectiva, embora não seja de excluir a sua etiologia comicial.A palavra nightmare que em língua inglesa significa pesadelo dizia respeito, há 400 anos, exactamente a um demónio (os incubus) que chegava e sufocava as pessoas enquanto dormiam.



in Wikipédia