6 de maio de 2009

Quase mentira, quase verdade

Escrevo aqui tudo o que sinto, o que me incomoda e o que me satisfaz. É um acto orgânico, tão necessário como comer. Passou igualmente a ser um vicio, pois quando não o faço tomo notas, seja em que papel for ou até em circunstâncias que parecem menos próprias.
Passei a aceitar este lugar como a extensão de mim mesmo. E os outros também: Incentivam-me, pedem-me conselhos como orientar a sua vida, preocupam-se quando não está actualizado e até o chefe já me disse que me tornei outro homem desde que criei isto.
É tudo verdade.
Há uma clarividência nos meus actos, não me engano nem tomo atitudes incorrectas. Creio que tenho um dom e ele foi-me revelado através do blog.
Só tenho que escrever, escrever sempre muito e todos os dias. Sei de antemão quando aqui me visitam e pedem que os visite. Sinto que faço parte da vida deles e eles contam comigo, não posso falhar.
Mas começo a ter medo. Medo de não conseguir dormir e não sonhar ou deixar de ter pesadelos. Se a insónia aparecer lá se vai a galinha dos ovos de ouro, ou seja a estima e consideração que me reservam, a inspiração que serve de inspiração aos outros.
Acordo transpirado.
Abro a janela. Está uma lua enorme e amarela lá no alto. Por instantes fecho os olhos, a imagem é tão misteriosa que me pergunto se o que vejo é ainda o sonho, uma alucinação ou é mesmo a noite com a lua tão cheia.
Desligo o portátil que ficou esquecido no sleeptime.

5 de maio de 2009

Voltei (a mim)

Tudo tão branco e macio, muito agradável aos olhos, ao toque. Sinto-me bem, tenho vontade de rir e fazer piadas, pôr os outros a rirem do mesmo que eu. Eles riem só de me verem sorrir, sem nada de concreto, apenas boa disposição.
Não sei quem é esta gente mas sinto-me bem entre eles e parece que sou muito popular, tratam-me bem, dão-me palmadinhas no pescoço e nos ombros, procuram que eu esteja perto deles.
Ela chegou elegante, de branco como tudo o resto, vem a sorrir, é tão bonita quando sorri.
Dá-me a mão, encosta a cabeça ao meu peito, ficamos assim juntos, os outros felizes por nos verem felizes.
Não sei quem é esta mulher bonita mas sinto-me à vontade com ela... É estranho, ninguém fala e no entanto ouço eles falarem, a mulher a dizer-me frases de amor, parece que os diálogos se constroiem dentro da minha cabeça e todos podem participar, dar opinião, concordar sem haver a necessidade de fazer o som para articular as palavras.
Beijo a mulher na testa, ela fecha os olhos e diz-me está bem. Mas só o diz dentro da minha cabeça, tranquila, pacifica.
Acordo com as notas que tenho andado a escrever ao lado da almofada, a luz acesa.
Ouço um grilo lá fora. Ou uma cigarra, não sei. Sei que gosto deste som. Acho que regressei a mim. Não sei explicar isto de outra maneira.
Amanhã vou trabalhar.

4 de maio de 2009

Registo 3

Mais uma nota. (Isto devía ir tudo directamente para o lixo!)
Li o que escrevi - muito em cima do joelho - e parece coisa de drogado.
Não vou voltar a fazer o que fiz, é preferível aguentar a insónia. Hei-de dormir, o sono há-de ser mais forte. Afinal o ser humano tem de dormir, obrigatoriamente, os nossos ciclos são assim: em alerta e em repouso.
Volto a lembrar-me do B., mas continuo sem ter a memória fotográfica necessária para o visualizar.
Sinto-me triste, mas não da mesma forma como tenho andado a sentir a tristeza, quase uma auto-comiseração. Sinto pena de não termos mantido o contacto. A vida tem umas voltas bizarras e retorcidas. Tentei retomar o contacto com um morto.

3 de maio de 2009

Registo 2

Estou pedrado. Devo estar. Sinto-me lento e tenho uma sede terrível, a lingua seca. Estou um pouco confuso. Desliguei o telemóvel. Mas agora estou com algum receio: Se me acontece alguma coisa...
Isto é tudo estúpido, estou para aqui a tentar escrever coisas com nexo quando nem para mim o fazem.
Tenho sono, muito sono.

2 de maio de 2009

Registo 1

Pedi uns dias antecipados de férias.
Continuo sem dormir.
Não me apetece escrever no blog. Aliás não me apetece nada. Deve ser assim que as pessoas começam a entrar em depressão.
Não tenho opção: Vou mesmo tomar um drunf. Ou até dois.

1 de maio de 2009

Com assinatura

Lá fora o cão, umas pessoas que riem alto e guincham, o som baço do rádio do carro que martela um ritmo constante. Dói-me a cabeça. Dói-me a cabeça como se fosse explodir. Lembro-me de um pesadelo recorrente que me aflige até às lágrimas, em que jorro sangue sem conseguir descobrir por onde. Acabo por perecer não pelo esvaír mas por me afogar no meu próprio sangue.
Quase temo que a cabeça me exploda e o sangue suje as paredes.
Esta noite, como de há quinze dias para cá a insónia. A maldita insónia.
Desta vez sei qual é a causa para não conseguir dormir. O bizarro disto tudo foi ter ido à procura de razões para a origem da insónia, achar que ao descobri-las era a solução para acabar de vez com elas. Ou pelo menos, entender o meu pesadelo da rua cinzenta.
No fundo, bem cá no fundo acho que sempre soube. Talvez por isso tenha arranjado desculpas para mim próprio para não encarar aquilo que inconscientemente já sabía.
Não se trata de intuições, sextos sentidos nem premonições. Não sou dado a esse tipo de coisas e na verdade nem sei se acredito nelas, mas cá dentro de mim havía qualquer coisa que me atrasava...
Saber agora que o meu amigo de infância morreu em 2006 foi e é, um duro golpe.
Não vou aqui contar o como, não altera nada e devo-lhe a ele e a mim também essa privacidade.
Não sei se me dói a cabeça por não conseguir dormir se por fazer tanta força para me lembrar do rosto dele e não conseguir.



PS.: O som é para ti B.