Nunca fiquei neste hotel.
Não é mau, é confortável, os empregados têm a delicadeza habitual dos germânicos, gestos de cabeça acompanhados de um esboçar de sorrisos, tudo muito limpo e distante. Digo eu, habituado ao comportamento dos latinos...
O quarto é simples: cama fofa, almofadas tamanho XXL (demasiado moles, sinto a cabeça a afundar), alcatifa creme, sofá vermelho escuro, cortinas pesadas da cor da alcatifa, secretária, cadeira, plasma, telefone, frigobar e uma casa-de-banho toda em mármore imaculadamente desinfectada.
Não me falta nada e parece que tudo me falta.
Falta o sono chegar, aquela sensação de cansaço no corpo que nos faz apetecer deitar e aconchegar entre a roupa com o nosso cheiro, depois de um dia de trabalho.
Tive um dia cheio, muito cheio e embora tenha ficado toda a noite anterior sem fechar os olhos sei que estive focado e não me saí mal.
Mas nem mesmo esta sensação de dever cumprido me relaxou o suficiente para me apetecer recolher, apagar a luz e descansar. O silêncio de novo. Se desligar o plasma desligo o mundo.
Sou só eu e esta insónia: Uma mulher exigente que reclama continuamente o meu corpo até à minha alma.