10 de fevereiro de 2009

Perseguição

Encontro-o, sorri-me, fico satisfeito de o ver, tenho vontade de o abraçar mas qualquer coisa impede-me, um receio, um arrepio.
Ele fala constantemente, faz muitas perguntas, nem sequer dá tempo a que eu lhe responda, sinto-o a olhar-me fixamente nos olhos ou talvez na testa, não sei bem, mas é uma marca profunda que crava e me incomoda. Eu não consigo encará-lo, sinto vergonha, espero que ele não se aperceba do que me vai na mente.
Sem hipótese de me esquivar ele toma-me num abraço, sinto-lhe as palmadas de regozijo nas minhas costas e sobre os ombros. Aos poucos o meu temor desvanece-se, acho-me um medricas por me ter distanciado dele quando fiquei tão feliz de o ver, rio, ele também, parou o discurso contínuo e as interrogações, liberto-me.
Confesso-lhe o que senti.
Apartados ele mira-me de novo nos olhos, na testa, ainda se ri.
Pergunta-me se o meu medo era do coto, e mostra, exibe aquela coisa horrível, deformada, a carne e o osso à vista, o braço curto, tento correr, fugir daquela imagem, mas ele segura-me pela manga do casaco. Precisamente com o coto, como se tivesse cola ou se se misturasse com o meu braço, sinto pânico, tenho medo daquilo como se fosse uma doença e agora seja eu que fique com um coto.
Do riso passa ao choro, aos gritos pela sua amputação, eu também choro, tenho medo, tenho tanto medo, não quero ver!
Choro com medo do que sonhei, sinto uma tristeza de morte.
Não vou dormir mais, prefiro passar o resto das horas até saír a andar de um lado para o outro. Assim, não volto a sonhar e a vê-lo.

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