1 de fevereiro de 2009

Felinos

Passeiam-se entre as minhas pernas, cada vez em maior número, tenho alguma dificuldade em movimentar-me, temo pisá-los ou que se assanhem e me cravem as unhas.
Não consigo descobrir a razão de tantos gatos ao meu redor, são mesmo muitos, silenciosos, as caudas espetadas, os bigodes eriçados e os pequenos focinhos a apontarem na minha direcção.
Embora receoso sinto que me pedem um afago.
Escolho um que me parece inofensivo, meigo, branco de dorso malhado.
Pisca os olhos verdes por cada vez que sente a minha mão a passar-lhe no pêlo. É macio, muito macio, agacho-me, aproximo-me dele, é belo, gosto da sensação que me dá ao acariciá-lo.
Os outros sentaram-se, assistem, assemelham-se a pequenas criaturas gordas vestidas de casacos confortáveis, muito solenes.
Há um silêncio perturbador nesta cena, só a minha mão se ouve a passar sobre a pelagem do meu eleito, é um som que toma proporções gigantescas à medida das minhas festas.
Páro, preciso escutar o que acontece à volta.
É com horror que vejo que o pêlo do animal se destacou das suas costas, uma folga que deixa à vista a pele rapada, peço-lhe desculpa, não o quis maltratar.
Acordo num sobressalto, acendo a luz, olho as mãos, a cama, o quarto.
Reinstalo-me, aconchego-me à roupa, sinto a moleza do sono a voltar.
Lá fora um gato solitário grita o seu amor de Janeiro.

1 comentário:

Teresa Durães disse...

por vezes os nossos sonhos captam os sons de fora e transformam-nos