20 de janeiro de 2009

O bolo

Palmas, muitas palmas, gente bonita, bem vestida, uma luz espectacular a conferir um glamour igualzinho ao das grandes produções da sétima arte.
Acho que conheço este sitio... Cotton Club? É, é mesmo!
Fala-se num linguajar doce, tudo muito melodioso que vai bem com o tilintar dos copos de champagne, um chic perfeito, nada de demasiado.
Dois empregados de branco-branco e negro-negro empurram um bolo da minha altura, rosa, creme, prata, inúmeras velas a cintilarem.
Sinto um fascinio enorme por estar aqui. Toda a gente bonita rodeia o bolo, aplaude, sorríem-me, estou feliz, mas tão feliz que até parece que me dói o peito, agradeço a todos, saiem-me as palavras na mesma linguagem elegante.
O discurso é interrompido por uma coelhinha que salta de dentro do bolo. Penso quem terá adivinhado este meu desejo guardado como um segredo. O salão enche-se em uníssono de um fuck, fuck, fuck.
Ela aproxima-se de mim, oferece-se, sei o que esperam de mim, agarro-a pela cintura mas todo o seu corpo tem a textura do bolo, macio, fofo, demasiado mole para o conseguir segurar, escorregadio, por mais que tente tudo se espalma nas minhas mãos, suja-me o fato, a cara, as orelhas.
O coro mantém-se inabalável e eu faço a única coisa possível: como-a.

3 comentários:

casa de passe disse...

nas primeiras linhas julguei que seria a descrição da festa de tomada de posse de algum novo presidente.
mas não.
sendo assim só uma coisa posso desejar: que lhe tenha feito muito bom proveito e sabido muito bem.

já agora, a ela também.


Ernesto, o avô

o Reverso disse...

...todo o seu corpo tem a textura do bolo... demasiado...

era uma coelhinha já velha? de bengala?

The Perfect Stranger disse...

bem positivo este pesadelo

Ok!
bom fim de semana