5 de dezembro de 2008

O sofá

Quando me deitei não tinha sono, a hora habitual de me recolher já havía passado, pois fui-me deixando estar numa moleza sem limites, agarrado ao comando da televisão.
Disse a mim próprio mais de 10 vezes que a seguir "a isto" levanto-me e vou para a cama. Mas a seguir "a isto" veio sempre "mais isto" e depois "outra coisa", e o tempo foi-se arrastando e eu com ele.
Está-se bem no meu sofá, já tem aquele encaixe do corpo, as almofadas a ampararem, a manta de viagem macia e quente...
Empurrado pelo bom senso lá me recolhi.
Mas o sono não se recolheu comigo e tudo o que tinha visto voltou em ondas, vagas, tsunamis, um fervilhar na cabeça que não me deixava quieto, os sons, as cores, todas as imagens a passarem-se como uma reposição mesmo à frente dos meus olhos. Eu bem os fechava mas quando dava conta já estavam bem abertos!
Levantei-me de um pulo.
Voltei à sala, ao sofá, à televisão, comando em punho.
Mas a insónia chegou com uma força tal que até das televendas eu não perdi pitada.
Lá fora chovía e relampejava. Não ouvi trovão algum.
Mas quando se anunciou estava em cima do prédio e a luz foi-se.
Não sei quanto tempo permaneci acordado. De manhã estava moído, um gosto estranho na boca e a cabeça completamente vazia.
O sofá pareceu-me pequeno, demasiado apertado para um homem do meu tamanho lá caber.

1 comentário:

Alexandra disse...

Acho perfeitamente natural perante a enormidade da insónia sentir o sofá pequeno demais para si. Estranho seria se assim não fosse!