9 de dezembro de 2008

O colega de escola

Amarrado de tronco e braços era-me impossível escapar. O pequenino combóio prosseguia a uma velocidade incrível, sentía um ar frio na cara, tudo negro, de quando em vez qualquer coisa ao de leve roçava na minha cabeça, no meu pescoço, reconheci o combóio-fantasma da minha infância da Feira Popular, a minha coragem perante a malta ao querer meter-me com esqueletos e outros sustos que saltavam de cavernas à medida que se passava em curvas sinuosas e que me davam um enjoo tremendo.
Agora aqui estava eu de novo, já homem, nem medo, nem náusea.
Só não entendía porque estava amarrado.
Os olhos foram-se habituando à escuridão. À minha frente um miúdo cinzento voltou-se para mim e riu-se, vi-lhe os dentes brancos, alguns em falta, só ría, não proferiu uma palavra que fosse.
Não sei como mas o meu olhar conseguiu chegar ao lugar dele e entrei em pânico quando lhe vi os tais calções, os joelhos feridos.
Debati-me para me libertar do que me prendía mas não consegui libertar-me, apenas tombei do combóio e fiquei para tráz, manietado e sózinho numa linha escura.
A pressão que tinha no peito quando acordei parecía que não me dava espaço para respirar.
Lembrei-me da cara do miúdo. Tentei recordar de onde o conhecía, havía qualquer coisa familiar naquele riso marcado e sem som.
Levantei-me, fui ao álbum de fotografias, procurei a de grupo da escola. Lá estava ele.
Agora eu sabía que um dos miúdos do meu sonho da rua era um antigo colega.
Mas isso não me deixou mais descansado e tão pouco pegar outra vez no sono.

1 comentário:

heatchclif disse...

bem esgalhado este texto
o miúdo do teu sonho está morto....
---------------------------------------
finito

_______________________________________________________________________________________________________________________________