2 de dezembro de 2008

Fixação

Empurraram-me para uma fila de miúdos, todos aos guinchos, eu enorme, de fato e gravata. Bem me revoltei e defendi que já não tinha idade para aquilo e tão pouco acreditava no pai natal, mas apertado entre uns e outros cheguei à cadeira onde o homenzinho das barbas brancas estava sentado.
Quería que eu me sentasse ao seu colo. Achei aquilo ridiculo! Antes que eu pudesse escapar-me, agarrou em mim com uma leveza que só visto e sentou-me nos joelhos. Depois ameaçou-me. Que se eu continuasse com a mesma postura ainda me acontecía qualquer coisa...
Eu olhava os miúdos na fila e aterrorizado, tentava que a minha expressão os alertasse para o perigo que corríam.
Nada: a euforia mantinha-se.
O pai natal começou a apertar-me cada vez mais e eu só vía vermelho, tudo vermelho, uma cor que cobría tudo de igual modo como um manto.
Gritei por socorro.
Ele agarrou-me pela gravata e enfiou-me na saca dos presentes.
Acordei sem ar, engasgado, uma sensação de mãos à volta do meu pescoço. Chamei-lhe tudo o que me lembrei e desejei que fosse para o inferno.
A chuva aumentou de intensidade e as pingueiras no varandim de metal, sincopadas, não me deixaram voltar a adormecer.

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