13 de novembro de 2008

Pecados

Sentado na secretária sou interrompido por uma colega de trabalho que me chama. Não é lá muito bonita mas nunca tinha reparado na sensualidade da sua voz. É quente, envolvente e diz o meu nome de uma forma que o torna tão especial na sua boca. Peço-lhe para que o repita, devagar, ela di-lo, suave e grave. Abraço-a, ela aperta-me.
Chega outra colega e chama o meu nome. É diferente mas igualmente cativante a maneira como o profere, primeiro audível depois só murmurado. Esta é uma mulher bonita, adivinho-lhe sob a roupa umas pernas firmes, umas coxas que devem apertar... sinto-lhe desejo. Beijo-a.
Alternadamente, uma e outra abraçam-me, beijam-me, acariciam-me por baixo do casaco, junto ao colarinho, nas orelhas.
Sinto um entusiasmo enorme, tanto mais pela surpresa da coisa. Os outros continuam sentados nas suas mesas de trabalho e nem ligam ao que se passa comigo.
Há uma que se ajoelha aos meus pés, olha-me, diz o meu nome daquela maneira...
A outra despe-se, agarra as minhas mãos e põe-as em concha sobre os seus seios, repete muito baixinho e seguido o meu nome, quase parece uma miar.
Penso que não vou desperdiçar esta oportunidade única.
Ela entra. É a mulher do retrato. Aqueles olhos dizem-me que a despedaço, que a faço sofrer...
Pergunto a mim mesmo o que faz ela no meu trabalho, como deu comigo, fico aflito, quero ir ter com ela, dizer-lhe que até tenho sonhado com ela, mas estou preso entre duas mulheres.
Desperto com a minha própria voz.
Sei que dizía não, não te vás embora.
Porque tinha esta mulher que aparecer no meu sonho? Ela não era deste sonho, este sonho era comigo e com as outras duas! Não com ela!
Sinto raiva, tristeza, frustração e saudades.
Ela continua cá, não saiu da minha cabeça.
Estou a ficar doido, doido!

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