11 de novembro de 2008

A menina dança?

Toco-lhe a ponta dos dedos, muito ao de leve, tão ao de leve que parece um choque eléctrico.
Ela ergue-se, é do meu tamanho, tem um pescoço enorme, muito esguio, toda ela é semelhante a uma estatueta fina e delgada vermelha, um vermelho profundo e escuro de veludo macio.
Não tem jóias, nenhuma.
Apenas este vestido vermelho agarrado ao corpo, as costas nuas, vejo distintamente os dois furinhos no final da coluna e muito perto das nádegas. O cabelo apanhado ao alto, as minhas mãos a segurarem-lhe o pescoço como quem agarra uma jarra de vidro muito frágil.
Dançamos.
Não, deslizamos, não sinto os meus pés, nunca a piso ou me engano e dela só sinto que parece estar acima do chão.
Dançamos sempre, muito devagar, colados um no outro, sem diálogos, sem nos olharmos, a minha mão nas costas dela a fazerem festas suaves, a outra no pescoço, ela abraçando-me, a cabeça quase deitada no meu ombro.
Cheira bem. Não sei o que é, mas cheira bem.
Fecho os olhos e deixo-me levar neste vai-vem que não sai do mesmo sitio, é apenas estar agarrado a esta mulher, nada mais.
Quando abro os olhos reparo que nos ombros dela cintilam os reflexos de uma enorme bola de espelhos que gira à mesma velocidade de nós.
Estamos sózinhos.
Beijo-a de olhos fechados e sinto-me caír de costas. Não tenho medo, é tudo tão bom e belo.
Abro os olhos como se continuasse a sonhar.
A luz começou a entrar no quarto, é a alvorada.
Levanto-me.
Tenho pena de não conhecer esta mulher... Era capaz de me apaixonar por ela.

1 comentário:

Teresa Durães disse...

bom é quando temos estes sonhos. Acordar torna-se violento mas as imagens ficam retidas