6 de novembro de 2008

Cego

Eu disse que ía e fui.
Mas em vão, estava tudo fechado ao publico, mudavam os artistas disseram-me.
Não quis fazer perguntas e regressei triste. Aliás tão triste que nem tenho explicação.
À noite, a repetição das insónias, adormecer nem pensar.
Fiz os truques todos que me ensinaram e mais uns quantos que ouvi aqui e acolá. Nada. Espertina absoluta.
Acomodei-me no sofá armado do comando da televisão. Fiz força para pensar nela, lembrar-me dela, de todos os pormenores reais e os dos sonhos. Mas a verdade é que parecía que me tinham passado uma borracha nas minhas lembranças, uma lavagem ao cérebro. Acho que a insanidade aos poucos está a tomar conta de mim...
Recordei mais umas quantas coisas disparatadas do contexto, contei os losangos do tapete, visualizei os números fixos com que jogo no Euromilhões e de repente, ela!
Levanto-me de um salto do sofá, dirigo-me a ela, abraço-a, beijo-a, dou-lhe uma mordidela suave no pescoço. Ela nunca fala, nunca emite um som sequer, apenas os olhos negros a devassarem-me, uma profundidade que dispensa tudo o mais.
Aventuro-me, baixo-lhe as alças do vestido, sei que o peito dela está próximo das minhas mãos, tudo está ali ao meu alcance mas por uma razão qualquer que não entendo, desespero, desespero até desistir.
É que nunca lhe consigo ver o corpo nú!
Acordo com uma dor enorme no pescoço, gelado, o comando na mão.

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