7 de novembro de 2008

Red

Passo a lâmina, desenho uma estrada. Depois outras, desfaço a barba. A água corre sempre em fio, nuvens de espuma acumulam-se numa bacia de louça estalada. Vejo-me apenas num pequeno pedaço de espelho partido que só me deixa ver metade da cara de cada vez.
Acho estranho ter um espelho partido.
Toco-lhe, corto-me numa aresta afiada e deixo um rasto de sangue que pinga como se tivesse uma nascente. Rapidamente a bacia enche-se, não sei onde vazá-la. Transborda, molha-me os pés, começa a encher a divisão onde estou, não é a minha casa-de-banho, fico desnorteado, procuro a porta para saír mas não há porta.
Tento estancar o fio de sangue que se desprende do espelho, mas cada vez me corto mais, dilacero ambas mãos até ficarem sem uso.
Grito, grito muito e choro, peço socorro, sinto o morno do sangue a subir por mim acima, sei que vou afogar-me nele, não quero, não fiz nada, não mereço, não quero morrer!
Acordo em pânico, a soluçar.
Durante algum tempo choro mesmo, não me consigo controlar, horrorizado pelo que acabei de sentir, de sonhar.
Quase sinto vontade de morrer para não ter que passar outra vez por estes pesadelos... Sinto-me tão só, tão desesperado...

1 comentário:

Alexandra disse...

Que sofrimento atroz!!

Percebo-o! O sentimento de estar só com um problema que nos atormenta e do qual pensamos nada poder fazer... Mas podemos. Sempre!

A brutal imagem que o pesadelo lhe deu provávelmente esteve relacionada, entre outras causas, com a necessidade de descansar sem ser incomodado. O próprio organismo pode reagir dessa forma. Facto é que percebeu a mensagem e, em SOS socorreu-se dos medicamentos. E fez muito bem!