1 de novembro de 2008

Acquosa

Mergulho.
Profundamente. Não há ar que me falte. Ondulo dentro de água sem necessidade do uso dos braços, das pernas, dos pés.
Tenho uma sensação de paz dentro de mim, parece que sempre vivi neste meio, sem resistência, sem dor, sem som.
Prossigo ora rente à areia ora vindo à superficie, e quando chego cá acima, quase cego por um sol esplenderoso. Parece que sei qual o rumo que devo tomar, tenho uma direcção certa, um objectivo, rasgo as águas a uma velocidade incrível, pequenas bolhas ficam para trás como um rasto da minha passagem.
De repente páro. Vejo uma mulher, nua, os cabelos louros são enormes, maiores do que o seu próprio tamanho, é bela. Penso para mim que terá cauda de peixe... mas não, duas pernas compridas e esguias, perfeita.
Sigo-a.
Ela deixa que eu a alcance, os cabelos sempre a ondularem ao sabor das marés, sorri-me, abraça-me, sinto o seu corpo junto ao meu. Não é frio, é morno, dum morno que não apetece largar. Beija-me. Continuadamente. Penso nesse instante que vou engolir água. Mas não. Retribuo-lhe os beijos.
Ela segura-me na mão e arrasta-me.
Não consigo ver o caminho por onde me leva, os cabelos longos tiram-me toda a visão.
Sinto-me feliz. Dentro do peito.
Nadamos por muito tempo.
Depois, num repente, sobe a pique, eu de reboque.
Olho para cima.
Estou preso num poço e a mulher desapareceu.
Acordo. Respiro apressado.
Todo molhado. Como os meninos pequeninos. Que sensação desagradável...

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