11 de outubro de 2008

Saudade

Silêncio absoluto, tudo branco. Não como a neve mas como o nevoeiro, não frio mas morno, sem outras cores que não branco, quase transparente. Não vejo nada para além de branco, até o silêncio parece branco.
Como irrompendo de uma cortina de fumo surge uma mulher.
Olha-me profundamente. Falamos sem abrir a boca, sem proferir uma palavra que seja que fira este branco, e no entanto escutamo-nos, percebemo-nos.
Beija-me ternamente nos lábios, apenas um aflorar.
Sinto-a triste, muito triste mas sem lágrimas nem a expressão vincada de quem padece da dor da separação. Sei que nos vamos separar, chegou ao fim, não por vontade nossa mas porque é assim.
Abraço-a, primeiro leve depois mais forte como se a quisesse esconder dentro do meu peito.
Ela repete o mesmo olhar profundo, leio-lhe nunca te esquecerei.
Passa a palma aberta da sua mão morna na minha cara, fecha-me os olhos, sinto a mão ainda pela boca, no queixo, parada sobre o coração.
Quando volto a olhar ela desapareceu, ainda vejo uma espécie de túnel de fumo branco que se abre à passagem dela.
Chamo-a, mas não é um nome que digo, é um som estranho e tão belo...
Acordo.
Olho o tecto do meu quarto e espero que ela me apareça a sorrir.
Sinto saudade de uma desconhecida.

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