10 de outubro de 2008

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Faço a barba, tomo duche, perfumo-me.
Sinto distintamente o cheiro da água de colónia, a cor ambreada, o pico do alcool a arder-me no recorte onde a barba termina.
Visto-me.
Estou bem, faço o nó de gravata frente ao espelho, admiro as mãos a darem a volta entre o laço que aperta e sustém.
Agora o casaco, levemente frio, lentamente a amornar-se no meu corpo.
Saio para a rua.
Não conheço esta rua embora saiba que é ela que me há-de levar ao destino. Não sei para onde vou mas pareço determinado até chegar a qualquer sitio.
As pessoas que se cruzam comigo olham, algumas param. São homens e mulheres sempre aos pares ou grupos de três, não mais. Todos eles sobem a rua enquanto eu a desço. É cada vez mais íngreme.
Começa a soprar um vento frio. Puxo as abas do casaco que esvoaçam. Não me tapam.
Dirijo o olhar para mim próprio e reparo que estou nú da cintura para baixo.
Desperto.
Fico muito quieto. Parece que não me consigo movimentar da posição em que estou.
As mãos seguram-me o sexo, apertadas entre pernas.
Ouço o meu coração a bater.

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