30 de outubro de 2008

Ruas da memória

Passeio por uma rua que recorrentemente me aparece nos sonhos. Na vida real não a conheço nem nada que se lhe assemelhe.
Não se vê nem se sente vivalma.
No entanto - penso em monólogo - que alguém aqui deve viver: Todas as varandas têm lençóis brancos estendidos e ouço vozes por detrás desses lençóis. De cada vez que ergo o olhar à procura dos inquilinos, levanta-se uma aragem morna e adocicada que agita os panos mansamente impedindo-me de ver quem está.
Quando a brisa se aquieta os lençóis voltam à sua posição pendente e trazem-me um cheiro de infância que me faz sorrir: O do sabão.
O puro e corrente sabão que a minha Mãe e a minha Avó usavam nas lavagens de tanque.
Sinto-me feliz, cheio de uma paz interior que me leva a fechar os olhos, a desejar encontrá-las.
Quando abro de novo os olhos é noite cerrada. Quase me sinto perdido, estranho a mudança da rua assim, tão repentina.
Ao longe ouço chamar o meu nome. Mas o diminuitivo que a minha Mãe e a minha Avó tão carinhosamente me chamavam.
Acordo.
Tenho uma saudade no peito que não me aguenta as lágrimas silenciosas que abafo na almofada.
Que saudades tenho destas duas mulheres que já se foram.

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