20 de outubro de 2008

Motorhead

Durante a hora do almoço passo os olhos por uma revista da especialidade sobre veículos de duas rodas. São um assombro!
Sempre gostei de motos mas nunca tive o arrojo para comprar uma.
O dia passa-se sem nada de especial: nem contrariedades, nem noticias que me tragam um momento de felicidade excessiva. Tudo normal.
Na hora do deitar a minha preocupação é o pouco tempo que vou ter para dormir. Preocupo-mo com as contas que faço desde que me deito até à hora que tenho de me levantar.
E claro, a insónia instala-se.
De vez em quando espreito o despertador e a ansiedade dos minutos contados ainda me deixa com menos sono. Simplesmente, não consigo sossegar, reconciliar a paz interior para me acomodar nas poucas horas de descanso que me restam.
Lembro-me de tudo e mais alguma coisa. Recordo os fatos pretos dos motards, as motos, as cilindradas, as fotografias em que o condutor arrisca a pele e se deita de lado sobre o asfalto.
É nestas divagações que adormeço...
Estou montado numa moto, mãos sobre os punhos, fato negro de cabedal, capacete com viseira tombada. Mas não ando, não circulo, fico-me por aquela pose impressionante sem mais accção alguma.
Um bando de mulheres louras aproxima-se. São todas iguais. Reparo com insistência na cor da pele delas em contraste com o meu fato escuro.
À vez tomam assento sobre a minha mota, à minha frente, exibem-me as nádegas rosadas e riem muito. Não entendo o que falam, só riem e sorriem para mim.
Disputam a vez, empurram-se, os seios fartos abanam quando se impõem perante as outras para se sentarem na minha moto.
Eu estou impávido e sereno, um mero assistente.
Uma delas, mais ágil, salta para a minha frente e levanta as nádegas na direcção da minha cara, abana-se, dá às ancas, eu vejo tudo e quero, mas por uma razão qualquer não consigo levantar a viseira do capacete e tomar uma atitude.
Vem outra e beija a loura da minha moto. É uma cena de pôr qualquer um completamente fora de si! E eu não me mexo, não me movo.
É aí que percebo que eu sou parte integrante do veículo, como se fosse uma peça, um escape ou uma roda e estou completamente soldado à minha máquina!
O despertador toca.
Estou irritado, confuso e completamente estoirado.

1 comentário:

Alexandra disse...

"Na hora do deitar a minha preocupação é o pouco tempo que vou ter para dormir." Já aqui começa o tormento...

Para não andar repetidamente a fazer-lhe gds lençóis... repare como tds os pesadelos que li até agora têm pontos de ligação. O negro espesso, a procura de algo e, quando nada procura, sente-se petrificado!

Tente perceber se alguma destas situações se encaixam no seu passado ou até mesmo no presente.