15 de outubro de 2008

Escadarias

Cá do alto avisto um chão axadrezado. Branco e negro, largos quadrados que contrastam com a cor de mel da madeira de uma escadaria em círculos como um parafuso.
É uma escadaria larga, de degraus não muito altos entre si, mas bem demarcados, macios, quase sinto o cheiro da cera que lhes confere aquele brilho recatado sem encadear.
Estou no topo da escada, agarrado a um varandim de ferro forjado trabalhado ricamente.
Há muitos pormenores a que me prendo, que observo fascinado.
Noto que a vista que obtenho torna-se um canudo, um cilindro fechado até chegar ao bicolor do chão, quase parece um olho que se desdobra num sem-fim.
Penso em descer a escadaria e sinto tonturas... o pé inicia o movimento até ao primeiro degrau, depois o segundo, outro, de seguida mais e mais, vou ganhando velocidade à medida que descrevo a curva larga, uma corrida desenfreada que me leva a pular vários degraus, agora só na ponta dos pés.
Torno-me de tal forma ágil que deixo de tocar o chão, inclino-me, largo a verticalidade e abro os braços, dirijo o meu corpo deitado rente às escadarias, suave, tão suave, voo...
Ao chegar perto do chão retomo o contacto dos pés.
Estou descalço, nos últimos degraus sinto a madeira acetinada e depois o chão, frio, frio...
Acordo devagar.
Não abro os olhos de imediato, sinto-me a pairar e é tão bom.

1 comentário:

Alexandra disse...

Lá bem no fundo também existem coisas boas e aconchegantes!