17 de janeiro de 2009

Sons

Deitei-me cedo, li um pouco e quando comecei a sentir as pálpebras a pesarem encostei o livro e apaguei a luz.
Creio ter adormecido quase de imediato, pois quando acordei ainda estava deitado para o mesmo lado.
O que me despertou foi o som de vidros a escaqueirarem-se e um grito que me fez sentir um arrepio ao longo da espinha. Senti o coração disparado. Depois um aperto pelo horror do berro. Fiquei à escuta, atentamente, à espera de ouvir vozes, barulho de gente a movimentar-se. Nada. Um silêncio profundo.
Não sei quanto tempo passou até acordar novamente, o mesmo grito, os vidros naquele tom gélido que fazem quando se partem.
Sentei-me na cama.
Achei impossível que viesse a quietude a seguir a tamanho ruído. E nada. Nada mesmo. Nem o som de estores a subirem, a vizinhança à cata da origem de tal barulho a rasgar a noite.
Permaneci na escuridão e sentado alerta.
Lá fora apenas uma bulha de gatos, os miados de quem chama a parceira, recordei o Janeiro. Ainda assemelhei a gritaria dos felinos ao som terrível que ouvira mas... não era de todo a mesma coisa.
Gelado, cobri-me e já de olhos fechados achei que no dia seguinte alguém comentaría o facto e eu ficaría a saber o que se passara.
Quando pela terceira vez ouvi aqueles sons de paralisar ainda vi no meu pesadelo, que era eu que me cortava numa janela.

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