11 de dezembro de 2008

O antes e o agora

A minha Mãe costumava tapar-me, ajeitar a dobra do lençol, dava-me um beijo na bochecha e antes de apagar a luz o aviso do "é para dormir! dorme bem filho". E eu dormía, era num instante. Depois, a meio da noite ela a entrar de camisa de dormir ou de outras vezes de roupão azul-claro até aos pés (não sei porque me lembrei disto agora, até aquela cor azul bébé), a agarrar-me, a encostar-me ao peito dela e a dizer "já passou". Não passava logo, mas o medo ía-se...
Embora sentisse uma angústia que naquele tempo não sabía que se chamava angústia, parecía que nada de mal me podería acontecer com a minha Mãe ali ao pé de mim. Já tentei recorrer a essa imagem nos meus pesadelos de adulto, buscar algum alivio, uma bóia de salvação, mas nada me faz sossegar e quanto mais força faço para me lembrar dessas noites de infãncia em que ela me acudía mais só e acossado me sinto.
Tenho vezes em que desejo fugir, não sei para onde, nem para quem. Mas para a minha Mãe é que já não é possível.

1 comentário:

Bruno Clemente disse...

Este blog é simplesmente assombroso, sonhos, pesadelos, mundos nossos criados e imaginados no nosso subconsciente ou um reflexo do mesmo.

Sublime!