15 de novembro de 2008

Luz

A escadaria é a mesma de sempre. Lá no fundo o chão quadriculado a preto e branco como um tabuleiro de xadrez.
Os primeiros degraus são descidos com os pés, depois mais rápido, sempre mais, fazendo as curvas suaves junto ao corrimão e já com o corpo deitado, braços abertos, barriga para baixo.
Noto que há uma luz que me acompanha do alto. Levanto a cabeça, por cima uma abóboda em vidro deixa penetrar na escadaria uma luminosidade leitosa, envolvente, entra aos gomos como a forma que a atravessa.
Fico maravilhado, pairo, levito.
Quero subir e sentir a luz de perto. Inverto o meu sentido e voo em circulos até chegar ao topo.
É um halo quente que me dá uma paz enorme, não me encandeia, consigo perfeitamente olhar a luz, ver através do vidro um branco de nuvem única, macia. Toco a abóboda e o meu braço atravessa a matéria como se fosse água, aperto esta cor de algodão, agarro a ambas mãos um pedaço e desço novamente sempre acima dos degraus até ao chão bicolor.
Volto à posição vertical e feliz por ter um bocado deste tesouro nas mãos.
Como-o, são farófias, leves, mornas, macias, uma espuma que se dissolve na boca.
Olho ao alto e a luz permanece intocável, sei que posso lá voltar e tirar quantos pedaços me apeteça que nunca fica a menos.
Acordo.
Dói-me o pescoço, adormeci no sofá, a tarde caíu para o principio da noite.
Vejo as horas. Uma sesta de 40m que valeu por uma semana de dormir.
Como me sinto bem, tranquilo e quase feliz.

2 comentários:

pront'habitar disse...

A felicidade é uma coisa real

Talvez, se acabámos de acordar, mas, meio a dormir ainda.

Teresa Durães disse...

quando o sonhar nos embala é tão boa a sensação!