21 de novembro de 2008

Bola de fogo

Levanto-me da cama e vou à janela.
Há uma claridade incendiada que me leva a suspeitar que o prédio arde, que corro perigo.
Abro as cortinas e a luz do dia bate-me em cheio na cara, no peito. Aquece-me. Fico de braços abertos a receber aquele calor.
Olho o sol já alto.
É precisamente quando o encaro que ele se torna uma bola laranja de fogo, giratória, cada vez maior e ganhando velocidade em direcção a mim. Assusto-me, mas não consigo tirar as mãos e os braços, fechar a janela e proteger-me, está tudo dormente, um formigueiro que me tira o comando dos movimentos, que me mantém naquela posição de cristo crucificado, sei que não conseguirei evitar o embate do sol contra mim.
Perante a evidência, resigno-me, espero que a dor seja curta e que acabe rápido comigo, que não sinta aquele lume a queimar-me.
Mas apenas uma faúlha se solta daquela bola de fogo que fica a pairar à minha frente, cega-me.
Essa partícula incendiada ataca-me o peito, o coração, queima lentamente até se sentir o cheiro de carne queimada, o buraco que abre para me levar o que tenho dentro.
Grito de dor, o meu tronco em chamas e fumegante arde lentamente e eu cego e preso nada posso fazer, sei que vou perecer com tamanha dor, quase começo a gostar...
Desperto com um estremeção.
O quarto está escuro. O meu coração acelerado, tento acalmar-me, pouso a mão no peito, está cá tudo, intacto.
Tapo a cabeça e respiro profundamente. Mas não de alivio.

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