Agarro as abas do casaco, puxo a gola ao pescoço, o vento é tanto, sinto frio, tenho vontade de chorar mas não é da ventania que me bate nos olhos, são saudades.
A rua está deserta.
É só uma rua cinzenta, larga, uma avenida que aos poucos e conforme a desço se vai alastrando, os passeios de um extremo ao outro cada vez mais distantes.
É só uma rua e eu.
Estranho não haver prédios, carros, gente, barulho. Talvez encontre as crianças que costumam brincar no passeio, aí estarei a salvo, sei que não estarei perdido.
Mas o vento é tanto que quanto mais ando mais longe fico. Para onde vou não sei, choro, tenho saudades de tudo, principalmente de mim, parece que me perdi no outro passeio mas está tudo tão distante que não consigo avistar-me.
É só uma rua, uma rua que me engole e me entrega ao anonimato completo.
Choro, quero ser alguém, quero encontrar-me outra vez, a partir daí sei que encontro os miudos e tudo estará correcto, certo, o vendaval pára e volto a sentir a brisa morna que costuma haver nesta rua cinzenta.
Desperto ofegante, ainda a gemer e a choramingar.
Estou longe de casa, longe de tudo. Acho que tenho medo.