tag:blogger.com,1999:blog-5461687739266397052024-02-07T23:07:04.248+00:00Sonhos e Pesadelos de um AnónimoRegisto ocasional do que ocorre pelas horas do dormiradivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.comBlogger133125tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-51721730474350600092009-07-15T00:00:00.002+01:002009-07-16T07:30:35.875+01:00Longe e sózinho<div align="justify">Agarro as abas do casaco, puxo a gola ao pescoço, o vento é tanto, sinto frio, tenho vontade de chorar mas não é da ventania que me bate nos olhos, são saudades.</div><div align="justify">A rua está deserta.</div><div align="justify">É só uma rua cinzenta, larga, uma avenida que aos poucos e conforme a desço se vai alastrando, os passeios de um extremo ao outro cada vez mais distantes.</div><div align="justify">É só uma rua e eu.</div><div align="justify">Estranho não haver prédios, carros, gente, barulho. Talvez encontre as crianças que costumam brincar no passeio, aí estarei a salvo, sei que não estarei perdido.</div><div align="justify">Mas o vento é tanto que quanto mais ando mais longe fico. Para onde vou não sei, choro, tenho saudades de tudo, principalmente de mim, parece que me perdi no outro passeio mas está tudo tão distante que não consigo avistar-me.</div><div align="justify">É só uma rua, uma rua que me engole e me entrega ao anonimato completo.</div><div align="justify">Choro, quero ser alguém, quero encontrar-me outra vez, a partir daí sei que encontro os miudos e tudo estará correcto, certo, o vendaval pára e volto a sentir a brisa morna que costuma haver nesta rua cinzenta.</div><div align="justify">Desperto ofegante, ainda a gemer e a choramingar.</div><div align="justify">Estou longe de casa, longe de tudo. Acho que tenho medo.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-65755723214442758432009-07-14T00:00:00.003+01:002009-07-16T07:28:17.586+01:00Consolo(do regresso)<div align="justify">Estranha sensação esta de abrir a boca, trazerem-me o garfo à boca, enrolado no garfo uma massa italiana ligeiramente rija, saborosa, sinto o cheiro ácido de tomate. Isto é mesmo bom, quero mais.</div><div align="justify">Sinto as garfadas a prosseguirem o seu caminho até à minha boca, só não vejo a proveniência, há-de haver algures um prato desta comida, quente, consola-me, é vermelha tingida do tomate, tenho a certeza, mas a mão que guia o talher não é a minha. Tão pouco tenho os olhos abertos, como consigo ver o que como e me sabe tão bem?</div><div align="justify">Acordo.</div><div align="justify">Quase sinto o gosto da <em>pasta</em> que sonhei...</div><div align="justify">Envergonho-me mas também me dá vontade de rir. Babei-me.</div><div align="justify">(1º Sonho desde que regressei a casa)</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-29030341003467265822009-07-13T00:00:00.001+01:002009-07-13T23:52:12.699+01:00Reblogo, logo estou vivo<div align="justify">Regresso. </div><div align="justify">E fico satisfeito por ainda ter vontade de aqui voltar e escrever, por saber que houve quem não esquecesse este modesto bloco-notas de um homem que muitas vezes não tem a certeza da realidade, sobre a sua existência enquanto individuo no mundo que o cerca, sobre a sua sanidade mental, sobre o acordar finalmente de um sonho que o atormentou por tantas horas.</div><div align="justify">Volto aos meus relatos de sonos percorridos entre corredores que não sei onde vão dar, nem se têm préstimo algum, quer sejam para mim, quer para quem generosamente se dá ao trabalho de aqui passar e me ler.</div><div align="justify">Chego ao que me parece a minha (outra) casa. Senti saudades.</div><div align="justify">Não volto diferente ou curado dos pesadelos, ou mesmo aliviado sobre a quantidade de sonhos. Não, continua tudo na mesma forma.</div><div align="justify">Só eu mesmo, o Anónimo é que regresso. Estou vivo.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-89767444066129174322009-05-06T00:00:00.003+01:002009-05-08T00:14:04.217+01:00Quase mentira, quase verdade<div align="justify">Escrevo aqui tudo o que sinto, o que me incomoda e o que me satisfaz. É um acto orgânico, tão necessário como comer. Passou igualmente a ser um vicio, pois quando não o faço tomo notas, seja em que papel for ou até em circunstâncias que parecem menos próprias.</div><div align="justify">Passei a aceitar este lugar como a extensão de mim mesmo. E os outros também: Incentivam-me, pedem-me conselhos como orientar a sua vida, preocupam-se quando não está actualizado e até o chefe já me disse que me tornei outro homem desde que criei isto.</div><div align="justify">É tudo verdade.</div><div align="justify">Há uma clarividência nos meus actos, não me engano nem tomo atitudes incorrectas. Creio que tenho um dom e ele foi-me revelado através do blog.</div><div align="justify">Só tenho que escrever, escrever sempre muito e todos os dias. Sei de antemão quando aqui me visitam e pedem que os visite. Sinto que faço parte da vida deles e eles contam comigo, não posso falhar.</div><div align="justify">Mas começo a ter medo. Medo de não conseguir dormir e não sonhar ou deixar de ter pesadelos. Se a insónia aparecer lá se vai a galinha dos ovos de ouro, ou seja a estima e consideração que me reservam, a inspiração que serve de inspiração aos outros.</div><div align="justify">Acordo transpirado.</div><div align="justify">Abro a janela. Está uma lua enorme e amarela lá no alto. Por instantes fecho os olhos, a imagem é tão misteriosa que me pergunto se o que vejo é ainda o sonho, uma alucinação ou é mesmo a noite com a lua tão cheia.</div><div align="justify">Desligo o portátil que ficou esquecido no sleeptime.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-75332230504655807032009-05-05T00:00:00.003+01:002009-05-06T23:36:16.407+01:00Voltei (a mim)<div align="justify">Tudo tão branco e macio, muito agradável aos olhos, ao toque. Sinto-me bem, tenho vontade de rir e fazer piadas, pôr os outros a rirem do mesmo que eu. Eles riem só de me verem sorrir, sem nada de concreto, apenas boa disposição.</div><div align="justify">Não sei quem é esta gente mas sinto-me bem entre eles e parece que sou muito popular, tratam-me bem, dão-me palmadinhas no pescoço e nos ombros, procuram que eu esteja perto deles.</div><div align="justify">Ela chegou elegante, de branco como tudo o resto, vem a sorrir, é tão bonita quando sorri.</div><div align="justify">Dá-me a mão, encosta a cabeça ao meu peito, ficamos assim juntos, os outros felizes por nos verem felizes.</div><div align="justify">Não sei quem é esta mulher bonita mas sinto-me à vontade com ela... É estranho, ninguém fala e no entanto ouço eles falarem, a mulher a dizer-me frases de amor, parece que os diálogos se constroiem dentro da minha cabeça e todos podem participar, dar opinião, concordar sem haver a necessidade de fazer o som para articular as palavras.</div><div align="justify">Beijo a mulher na testa, ela fecha os olhos e diz-me está bem. Mas só o diz dentro da minha cabeça, tranquila, pacifica.</div><div align="justify">Acordo com as notas que tenho andado a escrever ao lado da almofada, a luz acesa.</div><div align="justify">Ouço um grilo lá fora. Ou uma cigarra, não sei. Sei que gosto deste som. Acho que regressei a mim. Não sei explicar isto de outra maneira.</div><div align="justify">Amanhã vou trabalhar.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-89882541933770211632009-05-04T00:00:00.003+01:002009-05-06T23:35:38.017+01:00Registo 3<div align="justify">Mais uma nota. (Isto devía ir tudo directamente para o lixo!)</div><div align="justify">Li o que escrevi - muito em cima do joelho - e parece coisa de drogado. </div><div align="justify">Não vou voltar a fazer o que fiz, é preferível aguentar a insónia. Hei-de dormir, o sono há-de ser mais forte. Afinal o ser humano tem de dormir, obrigatoriamente, os nossos ciclos são assim: em alerta e em repouso.</div><div align="justify">Volto a lembrar-me do B., mas continuo sem ter a memória fotográfica necessária para o visualizar.</div><div align="justify">Sinto-me triste, mas não da mesma forma como tenho andado a sentir a tristeza, quase uma auto-comiseração. Sinto pena de não termos mantido o contacto. A vida tem umas voltas bizarras e retorcidas. Tentei retomar o contacto com um morto.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-68925979622418445642009-05-03T00:00:00.003+01:002009-05-06T23:34:34.867+01:00Registo 2<div align="justify">Estou pedrado. Devo estar. Sinto-me lento e tenho uma sede terrível, a lingua seca. Estou um pouco confuso. Desliguei o telemóvel. Mas agora estou com algum receio: Se me acontece alguma coisa...</div><div align="justify">Isto é tudo estúpido, estou para aqui a tentar escrever coisas com nexo quando nem para mim o fazem.</div><div align="justify">Tenho sono, muito sono.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-16283382890202004442009-05-02T00:00:00.003+01:002009-05-06T23:34:14.505+01:00Registo 1<div align="justify">Pedi uns dias antecipados de férias.</div><div align="justify">Continuo sem dormir.</div><div align="justify">Não me apetece escrever no blog. Aliás não me apetece nada. Deve ser assim que as pessoas começam a entrar em depressão.</div><div align="justify">Não tenho opção: Vou mesmo tomar um drunf. Ou até dois.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-75875004491203207082009-05-01T00:00:00.005+01:002009-05-06T23:33:54.461+01:00Com assinatura<div align="justify">Lá fora o cão, umas pessoas que riem alto e guincham, o som baço do rádio do carro que martela um ritmo constante. Dói-me a cabeça. Dói-me a cabeça como se fosse explodir. Lembro-me de um pesadelo recorrente que me aflige até às lágrimas, em que jorro sangue sem conseguir descobrir por onde. Acabo por perecer não pelo esvaír mas por me afogar no meu próprio sangue.</div><div align="justify">Quase temo que a cabeça me exploda e o sangue suje as paredes.</div><div align="justify">Esta noite, como de há quinze dias para cá a insónia. A maldita insónia.</div><div align="justify">Desta vez sei qual é a causa para não conseguir dormir. O bizarro disto tudo foi ter ido à procura de razões para a origem da insónia, achar que ao descobri-las era a solução para acabar de vez com elas. Ou pelo menos, entender o meu pesadelo da rua cinzenta.</div><div align="justify">No fundo, bem cá no fundo acho que sempre soube. Talvez por isso tenha arranjado desculpas para mim próprio para não encarar aquilo que inconscientemente já sabía.</div><div align="justify">Não se trata de intuições, sextos sentidos nem premonições. Não sou dado a esse tipo de coisas e na verdade nem sei se acredito nelas, mas cá dentro de mim havía qualquer coisa que me atrasava... </div><div align="justify">Saber agora que o meu amigo de infância morreu em 2006 foi e é, um duro golpe.</div><div align="justify">Não vou aqui contar o como, não altera nada e devo-lhe a ele e a mim também essa privacidade.</div><div align="justify">Não sei se me dói a cabeça por não conseguir dormir se por fazer tanta força para me lembrar do rosto dele e não conseguir.</div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify"></div><br /><div align="justify">PS.: O som é para ti B.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-28174042200937248532009-04-18T00:00:00.003+01:002009-04-24T07:03:31.355+01:00À capela<div align="justify">Tive um serão agradável: Um grupo de antigos colegas juntamo-nos, como o fazemos todos os anos pela Primavera. Falamos do tempo de escola, de Coimbra, das republicas, é assunto obrigatório e recorrente. Falamos do que fazemos actualmente, dos que não apareceram, especulamos, rimos, comemos e bebemos. No final, os fados de capa negra.</div><div align="justify">Regressei a casa com uma paz imensa e a trautear o que ouvira.</div><div align="justify">Recolhi-me e ferrei no sono.</div><div align="justify">Destaparam-me, puxaram-me por um pé e caí redondo no chão.</div><div align="justify">Toda a entrada do quarto estava vedada por uma barreira de homens enormes envoltos em capas negras. Um som de capela silvou e eu tapei os ouvidos, fechei os olhos, mas à medida que o entoar se mantinha estável, modulado, quase palpável comecei a sentir uma admiração enorme por quem cantava.</div><div align="justify">No meio deles, o meu colega de escola, o miúdo de calções, joelhos feridos, a imagem cinzenta no seu todo. Lembro-me de lhe ter pedido desculpa por não o procurar. A voz dele elevou-se à dos outros. Até se extinguir o som e a sua figura cinzenta.</div><div align="justify">Acordei tranquilo, uma sensação de perdão, o coração calmo.</div><div align="justify">Vou procurar o meu amigo de infância, devo isso a mim mesmo.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-43562832664198374162009-04-17T00:00:00.005+01:002009-04-18T23:45:55.368+01:00Caminhadas<div align="justify">Deitei-me de estomago ainda cheio. Já sei que isto não dá bom resultado, mas sentía-me sonolento e achei que não devía perder a oportunidade.</div><div align="justify">Adormeci profundamente, como uma pedra.</div><div align="justify">Até aí tudo bem. O pior foi ter acordado enjoado, transpirado, uma sensação de vómito que não dá para aguentar. Mas aguentei. O sono é que não voltou.</div><div align="justify">E por isso, desta vez resolvi fazer uma coisa que nunca fiz: Saír de casa, ir à procura do cão que ladra a meio da noite, andar, cansar-me, qualquer coisa para ocupar o tempo e o espirito.</div><div align="justify">Chovía, não muito, mas aquela morrinha que ensopa a roupa.</div><div align="justify">Passados vinte minutos estava de volta a casa.</div><div align="justify">Tomei um duche quente, deitei-me e adormeci como um bébé até ao dia seguinte. Se sonhei não me lembro de nada.</div><div align="justify">Não encontrei o cão e tão pouco o ouvi ladrar.</div><div align="justify">Estou como novo!</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-73558149731906670982009-04-16T00:00:00.004+01:002009-04-19T05:48:26.050+01:00Outras vidas?<div align="justify">A mulher de rosto de cera e lábios vermelhos olha-me tristemente sem mover um músculo.</div><div align="justify">Eu passo várias vezes à porta onde ela se mantém direita, mãos traçadas sobre a roda do vestido, passo sempre como se andasse num carrossel, mas não às voltas, é um movimento igual ao de atravessar infinitamente uma rua ao volante de um carro, em ritmo lento, tudo se passa em ralenti, só eu estou a uma velocidade real assim como os olhos tristes dela.</div><div align="justify">Ao redor tudo está destruído, sem cor, só os lábios vermelhos muito intensos numa cara de tanto sofrimento.</div><div align="justify">Passo sempre sem parar, sem conseguir parar junto a ela, pedir-lhe para não ficar triste, que venha comigo.</div><div align="justify">Sinto no peito a dor dela, o silêncio dela.</div><div align="justify">Quando acordo sinto-me amargurado. E de repente recordo-me de todo aquele estranho silêncio que temi quando estive fora e vejo que o meu medo era porque já o havía experimentado antes neste sonho recorrente.</div><div align="justify">Por um lado fico contente de achar uma ponte entre estas duas dimensões. Por outro, assaltam-me ideias de vidas reencarnadas... Será que eu já conheci a mulher do meu sonho noutros tempos e o silêncio do quarto de hotel despertou a minha vida passada?</div><div align="justify">Sinto-me estranho. Amargurado como já disse.</div><div align="justify">E ouço o cão no seu ladrar solitário. Lembro-me de ter tido saudades de o ouvir e neste momento não quería nada ouvi-lo. Nada mesmo.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-85531073910757640652009-04-15T00:00:00.004+01:002009-04-19T05:50:33.047+01:00Confidências<div align="justify">Tenho andado estes dias a passar as notas que tomei aquando da minha última viagem aqui para o blog.</div><div align="justify">Inicialmente tinha pensado compô-las, mas agora acho que toda a terapeutica deste sitio tem exactamente a ver com a realidade e crueza com que tenho passado para aqui todos os sentimentos e emoções que me possuem quando sonho, quando as insónias me põem as mãos a tremer ou até mesmo quando choro por os pesadelos serem demasiado para os aguentar, duvidando se são ou não materialmente vividos.</div><div align="justify">Talvez o objectivo inicial disto tudo se tenha perdido um pouco no espaço e no tempo, mas a verdade é que me sinto impelido aqui a vir, se não sempre, pelo menos quando o bichinho da blogesfera me chama (já me tinham avisado e eu não quis acreditar...)</div><div align="justify">Foi esta também uma forma de descobrir que há outros que também se afligem com os mesmos pesadelos; Não que isto me compense, mas deixei de me achar um anormal e principalmente, retirei todo o pragamtismo analitico que os profissionais durante anos a fio me incutiram (e me raparam do bolso!).</div><div align="justify">Se a minha natureza é sonhar, sofrer com os pesadelos, pois que seja, mas pelo menos que me dê consciência e tino suficientes para os poder descrever da melhor forma que sei.</div><div align="justify">Não sou escritor, serei um contador do que se atravessa nas minhas horas de dormir, e se o anonimato se impõe pelas circunstâncias da vida, que não se considere tal como uma cobardia mas uma necessidade de não me olharem de modo diferente apenas porque confesso o que de tão intimo se passa comigo.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-29089384949539198522009-04-14T00:00:00.003+01:002009-04-18T23:42:58.262+01:00Pernas para que vos quero<div align="justify">São só pernas, enormes, esguias, de um tom dourado e brilhantes como se estivessem cobertas de um pó de ouro que reluz. São pernas tão altas que dá para eu passar por baixo delas como se fossem uma ponte.</div><div align="justify">Apetece-me olhar para cima... Nem que seja num relance.</div><div align="justify">Imagino como será... Se tem pernas deste tamanho, proporcionalmente... Como será?</div><div align="justify">São pernas que se cruzam atrevidamente, fazem curvas e ângulos, atiçam o meu desejo de lhes tocar, apertar, afastar.</div><div align="justify">Eu conheço estas pernas mas não sei de onde.</div><div align="justify">Desperto e sei que estou a sorrir. Já sei de onde conheço estas pernas gigantes: São da interprete alemã que esteve aqueles dias a trabalhar comigo.</div><div align="justify">Não era uma mulher atraente mas tinha um par de pernas de caír para o lado.</div><div align="justify">Aninho-me: Talvez agora consiga sonhar com o resto do corpo. E pôr-lhe um rosto mais simpático e afável do que o que na realidade tinha.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-13077004962375646742009-04-13T00:00:00.004+01:002009-04-18T23:42:19.581+01:00Azul claro<div align="justify">Chamo-a várias vezes, não se volta, aos meus olhos o detalhe do roupão azul claro a arrastar pelo chão, os ombros bem destacados numa espécie de nevoeiro que a vai engolindo. Grito, talvez não me tenha escutado, mas prossegue sem se virar e no entanto eu sei cá no fundo que me ouve tão distintamente quanto se estivesse ao meu lado.</div><div align="justify">Estranho que venha para a rua com o roupão azul claro. A minha mãe não é destas coisas, deve ter acontecido um problema qualquer para vir para a rua nesta roupa. Pergunto-lhe: caminhando sempre, responde-me baixo e eu ouço-a, não pára, não se vira para me olhar e explicar porque está vestida desta forma em plena rua, capaz de encontrar outras pessoas para além de mim, comigo não faz mal mas os outros que irão pensar?</div><div align="justify">O nevoeiro acompanha-a como uma moldura, um contraste esbatido entre o claro do azul e o leitoso transparente.</div><div align="justify">Lembro-me deste roupão quando eu era miúdo e ela vinha ao meu quarto sossegar-me tarde da noite, abraçar-me e dizer que eram pesadelos. Talvez me deva deitar aqui mesmo, assim ela virá e olhará para mim e abraça-me e acaba-se com isto tudo.</div><div align="justify">Deito-me no passeio da rua, deixo de a ver, ao nevoeiro, à bainha do roupão azul claro a arrastar.</div><div align="justify">Há gente que se aproxima de mim, envergonho-me.</div><div align="justify">Acordo hirto, destapado. Muito assustado.</div><div align="justify">Tenho tantas saudades da minha mãe.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-6416187093491436042009-04-05T00:00:00.003+01:002009-04-18T23:41:44.793+01:00A (minha) casa<div align="justify">Como é agradável regressarmos a casa, saber onde estão as nossas coisas, tudo certo, tudo com a nossa marca.</div><div align="justify">Tenho a certeza que hoje vou dormir.</div><div align="justify">Passei mais uma vez a barreira do meu próprio medo quanto ao viajar pelos céus (Acho que nunca me vou habituar...), tenho os pés na terra firme, na minha casa, no meu mundo cheio de barulhos pequeninos que me fazem sentir vivo. Engraçado que nunca me tinha apercebido como me são importantes para o equilibrio emocional. Só por isso já mereço dormir como uma pessoa normal.</div><div align="justify">Amanhã vou ao escritório, entrego os relatórios, faço a reunião e depois férias. Uns merecidos dias de descanso pela semana pascal.</div><div align="justify">(Não vou acabar com o meu blog. Sería de uma grande estupidez desperdiçar estes meses. Ignorar-me. E até mesmo aos que tiveram paciência suficiente para me lerem e aconselharem, que embora sendo no virtual, melhor coisa teríam para ler sem ser a mim e às minhas loucuras)</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-66922118102140992742009-04-04T00:00:00.004+01:002009-04-18T23:41:19.746+01:00Saudades<div align="justify">Tanta vontade de dormir tinha que obviamente resultar em asneira: adormeci profundamente por duas horas, um pouco mais, depois a espertina, este maldito silêncio que me põe os nervos num feixe.</div><div align="justify">Se estivesse em casa àquela hora da madrugada decerto ouviría o cão a ladrar. Aquele som triste que me deixa melancólico, triste, saudoso. Acho que tenho saudades daqueles uivos lamentosos... Aqui não há nada, nem cães, nem pessoas que se sintam vivas.</div><div align="justify">Parece que dormi para acordar para um silêncio de morte.</div><div align="justify">Não quero voltar a ficar neste hotel. Como é lugubre tanto silêncio!</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-26180212629667598762009-04-03T00:00:00.003+01:002009-04-18T23:40:54.873+01:00Muito sono<div align="justify">Ainda não são 10 da noite e estou cheio de sono. Sono daquele de querer dormir, tapar-me, sentir o calor e deixar-me ir.</div><div align="justify">Esta noite vou mandar às urtigas a revisão dos apontamentos sobre a reunião de hoje e a de amanhã.</div><div align="justify">Nem me apetece apontar seja o que for nestas notas...</div><div align="justify">(Última questão: Será que tudo isto tem algum préstimo? Se calhar ando para aqui a escrever sobre coisas que devería esquecer, não lhes dar importância. Talvez deva fechar o blog e parar de procurar razão para os meus pesadelos)</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-65652772772353981692009-04-02T00:00:00.004+01:002009-04-18T23:40:28.146+01:00Out<div align="justify">Não faço a minima idéia se foi o pânico de não dormir ou a ameaça de me drunfar que me pôs a dormir, mas lá que dormi, isso é bem verdade.</div><div align="justify">Sem sonhos, sem pesadelos.</div><div align="justify">Aliás, parece que dormi a correr: lembro-me de me deitar e de acordar hoje com o telemóvel.</div><div align="justify">O entermeio nestes dois tempos é de memória nula.</div><div align="justify">E apesar de tudo sinto-me tenso, apreensivo.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-49331430176672810982009-04-01T00:00:00.003+01:002009-04-18T23:40:06.942+01:00Escolhas<div align="justify">Se esta noite voltar a maldita insónia tomo a pastilha do costume.</div><div align="justify">Não posso arriscar outra noite.</div><div align="justify">Hoje estive cansado, e tive que fazer o dobro do esforço para não perder as orientações que trazía como trabalho de casa, os objectivos a atingir e especialmente não me pôr a divagar sobre a interprete de olhos verdes e pernas de 1,50m. (Donde é que esta mulher apareceu?!).</div><div align="justify">Sei que se tomar a pastilha mágica entrarei num bolha que me isola de tudo. O problema é sempre o dia seguinte, o encortiçado que me apanha o raciocinio, a lingua, os movimentos.</div><div align="justify">Mas ou é isto ou sujeitar-me a um vexame pela forte hipótese de não voltar a dormir e começar a ter alguma alucinação em plena reunião de serviço.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-88598500903026582492009-03-31T00:00:00.003+01:002009-04-18T23:39:31.492+01:00Quarto de hotel<div align="justify">Nunca fiquei neste hotel.</div><div align="justify">Não é mau, é confortável, os empregados têm a delicadeza habitual dos germânicos, gestos de cabeça acompanhados de um esboçar de sorrisos, tudo muito limpo e distante. Digo eu, habituado ao comportamento dos latinos...</div><div align="justify">O quarto é simples: cama fofa, almofadas tamanho XXL (demasiado moles, sinto a cabeça a afundar), alcatifa creme, sofá vermelho escuro, cortinas pesadas da cor da alcatifa, secretária, cadeira, plasma, telefone, frigobar e uma casa-de-banho toda em mármore imaculadamente desinfectada.</div><div align="justify">Não me falta nada e parece que tudo me falta.</div><div align="justify">Falta o sono chegar, aquela sensação de cansaço no corpo que nos faz apetecer deitar e aconchegar entre a roupa com o nosso cheiro, depois de um dia de trabalho.</div><div align="justify">Tive um dia cheio, muito cheio e embora tenha ficado toda a noite anterior sem fechar os olhos sei que estive focado e não me saí mal.</div><div align="justify">Mas nem mesmo esta sensação de dever cumprido me relaxou o suficiente para me apetecer recolher, apagar a luz e descansar. O silêncio de novo. Se desligar o plasma desligo o mundo.</div><div align="justify">Sou só eu e esta insónia: Uma mulher exigente que reclama continuamente o meu corpo até à minha alma.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-73524147744521478702009-03-30T00:00:00.004+01:002009-04-18T23:38:41.958+01:00A viagem<div align="justify">A viagem fez-se normal, os meus receios habituais sobre os aviões foram isso mesmo: Habituais.</div><div align="justify">Para além destes, a expectativa sobre o hotel, o quarto. Eu sei que pensar demasiado no que estará para chegar é um pouco como o perú e morrer de véspera, mas se as minhas noites são o que são num ambiente que me é familiar, não se pode achar descabido que as adivinhe hostis num sitio que não é o meu.</div><div align="justify">A primeira noite, fria, muito, muito fria, entregou-me uma insónia daquelas de estalar.</div><div align="justify">Havía um silêncio que se ouvía. Um silêncio frio, quase morto, quase nada.</div><div align="justify">De repente senti-me o único vivo daquele hotel, nada se escutava, nem água a correr nas torneiras, nem pés cuidadosos de empregados, tão pouco alguém que se animasse num quarto perto.</div><div align="justify">Quando chegou a hora de abrir a porta, quase estranhei ver outras pessoas na sua rotina habitual. O meu colega elogiou o sossego, a noite bem dormida e o consequente sucesso garantido na reunião que iríamos ter. Fui incapaz de lhe revelar como fora a minha noite.</div><div align="justify">E por isso mesmo, resolvi todas as noites tomar notas sobre as minhas noites.</div><div align="justify">Não são textos literários, são apontamentos sobre o meu comportamento, o que me rodeou, os sonhos e claro, os pesadelos.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-971898910773173032009-03-24T00:00:00.000+00:002009-03-24T06:07:35.198+00:00Mais uma<div align="justify">São 4,22h.</div><div align="justify">Entre tantas esta é apenas mais uma noite de insónia.</div><div align="justify">Sinto-me estranhamente calmo e ao mesmo tempo a tremer por dentro. Não sei a que atribuír esta espertina: Não tomei café ao jantar, não me aborreci e não tive mais problemas para resolver para além do habitual. As coisas no escritório vão a uma velocidade normalissima e nem mesmo a viagem que farei dentro de dias me tem apoquentado (eu gosto de viajar, o mal são os aviões).</div><div align="justify">Li o que escrevi ao longo destes meses por aqui.</div><div align="justify">Na verdade, acho que se não soubesse que isto são tudo coisas por que passei, acharía que quem escreveu isto, no minimo, precisava de tratamento. Ou até internamento.</div><div align="justify">Começo a pensar que sou um perigo para mim próprio... Se não tivesse sentido na carne os horrores de cada um dos pesadelos que sofri diría que isto tudo que por aqui vai, não passa de um argumento para um filme passado num manicómio, e que na vida real, não podería acontecer.</div><div align="justify">Mas aconteceu. Senti e doeu-me. E como tudo na vida, tenho mais tendência para me lembrar dos pesadelos do que dos sonhos. Já os tive, bons e bonitos.</div><div align="justify">Talvez deva escrever aqui apenas os sonhos, esquecer os pesadelos e as insónias, fazer de conta que só sonho cor-de-rosa.</div><div align="justify">Este foi mais um registo de ver as horas a passarem. São 6,05.</div><div align="justify">Estou cansado.</div><div align="justify">Estou com sono mas a vida está à minha espera.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-73954215663986663432009-03-23T00:00:00.003+00:002009-03-24T05:51:29.411+00:00Zero<div align="justify">Uma caixa de cartão simples, sem mais nada, parda, no topo as badanas semi-levantadas. Espreito para o seu interior: Cheia com uma pilha de papel branco. Debruço-me, acho estranho tanto papel sem nada escrito. Quando aproximo a vista constato que estão preenchidas com números. Números e mais números enfileirados, carreiras, linhas compactas de números desde o topo até aos extremos.</div><div align="justify">Não entendo estes números, o que são, o que querem dizer, o que se pretende que eu faça deles.</div><div align="justify">Folheio a pilha de papel apertada na medida da caixa, não consigo tirá-la para fora, todas as outras folhas estão repletas de números.</div><div align="justify">Estes números vão aumentando de tamanho. Deduzo que na última folha do monte há-de estar apenas um único algarismo.</div><div align="justify">Tenho para mim que há-de ser o 8, que é o meu favorito.</div><div align="justify">Mas não: São apenas dois zeros um por cima do outro, separados por uma ligeira distância entre eles.</div><div align="justify">São um oito desligado, penso, se os juntar hão-de ser de novo o meu número da sorte.</div><div align="justify">Com o indicador empurro o zero de baixo na direcção do de cima. Faço uma ligeira pressão para que se mova até se unir ao outro zero.</div><div align="justify">Insisto, raspo com a unha, arrasto, nada. Teimoso, faço força usando todos os dedos.</div><div align="justify">O papel fura-se, separa-se num rasgão e agora os dois zeros estão mais afastados do que nunca. Sei que nunca terei sorte, condenei a minha sorte às minhas próprias mãos.</div><div align="justify">Quando acordo tenho o coração a bater num compasso violento, uma angústia não só por mim mas por todo o quarto, quase sinto, por toda a minha vida.</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-546168773926639705.post-7236439821549752912009-03-22T00:00:00.003+00:002009-03-23T06:01:40.669+00:00Incurável<div align="justify">A rua está no sitio dela, cinzenta, ventosa. Só é rua porque eu estou lá e faço dela um sitio de medo. Não sei de quê. Até os garotos me assustam, sinto sempre receio de lhes ver os joelhos esfolados, encadear-me no sangue em fio em contraste com a falta de outras cores que pareço não conseguir fabricar.</div><div align="justify">Mas só neste sonho.</div><div align="justify">Nos outros, mesmo naqueles em que é tudo branco e não consigo ver, não há a ansiedade deste, a empurrar-me ao longo da rua onde cada promenor parece ferir-me a vista: as pedras da calçada, a falta de outros para além de mim e dos miúdos, passadeiras de peões, que a qualquer momento se tornam grades de cárceres horizontais que me hão-de engolir sem a esperança de que o grito que solto há-de acudir outros e os outros me hão-de dar a mão.</div><div align="justify">Aos poucos trago para esta rua, camufladamente, gostos que gostaría de ter tido. A mulher do quadro que de quando em vez se escapa ao meu encalce, o meu amigo de infância a quem perdi o rasto.</div><div align="justify">Tenho andado fora, muito por fora do que é entendimento racional e aceite.</div><div align="justify">Os pesadelos voltam, num ciclo vicioso sem se alterarem no conteúdo e sem me darem tréguas ao esquecimento. Quero pensar noutras coisas e não consigo, tenho medo de dormir, tenho medo de não conseguir dormir, tenho medo de não acordar.</div><div align="justify">Até que ponto remexer nos sonhos e pesadelos não os dimensiona?</div><div align="justify">Até que ponto esquecer <em>kem dorme</em> não é um passo atrás nas escadas que venho a subir aos poucos para entender - estou certo - o que é incurável?</div>adivinhahttp://www.blogger.com/profile/04867817156927718636noreply@blogger.com1